“Falta cultura desportiva”
Presidente do Comité Olímpico faz uma crítica dura aos nossos políticos. O futebol tem sido privilegiado e as outras federações queixam-se
Presidente do COP compreende as opções da comunicação social, mas não as dos governantes. E revela que já se ofereceu para ajudar a evitar diferenças de tratamento entre atletas e modalidades
José Manuel Constantino tem feitos intervenções em matérias que normalmente o Comité Olímpico de Portugal evitava.Tendo praticado futebol e procurando aumentar a sua importância no olimpismo, também sente – e denuncia – que no nosso país há diferenças de tratamento. Defendeu uma ação do poder político para tentar alterar uma agenda mediática dominada pelo futebol. Que se pode fazer? —Alterar o posicionamento dos decisores políticos, mudar as políticas públicas relativamente à hierarquia de importância que dão aos diferentes eventos, replicando a agenda mediática. Compreendo a agenda mediática, mas não compreendo que as políticas públicas vão atrás dela, até por possuir razões completamente distintas.Amim faz impressão que em determinadas disciplinas o poder político, ao seu mais elevado nível, distinga este ou aquele atleta em certas modalidades e depois méritos desportivos equivalentes sejam puramente ignorados. E às vezes não se reconhece apenas por se mandar uma mensagem. A uns manda-se uma mensagem e a seguir são recebidos, são distinguidos e condecorados e a outros manda-se a mensagem e não se faz mais nada.Ou anuncia-se que se vai fazer e não se faz. São sinais que se vão deixando e revelam da parte do poder político que nem sempre há o cuidado de tratar de forma idêntica aquilo que é equivalente. Não se trata de esquecer ou desvalorizar o futebol. Trata-se é de, no reconhecimento que se faz a essa modalidade e ao valor que ela tem no quadro competitivo nacional e internacional, esconder as outras. Mas acontece porquê? —Por ausência de sensibilidade e de cultura desportiva. O que as pessoas conhecem do
José Manuel Constantino desporto é que o leem nos jornais e o que ouvem; não investem na formação e no conhecimento. Mas estamos a falar de pessoas com obrigação de ter cultura desportiva... —Quando se exerce um cargo de natureza pública há obrigações, e nem quero invocar as de natureza constitucional, em relação à forma como o desporto deve ser tratado. Tem de haver alguma sensibilidade para que, e nem sei se posso usar esta expressão, os menos protegidos pelas lógicas da construção mediática não sejam desprotegidos ou ignorados por parte do poder político. Não posso pedir à comunicação social que substitua aquilo que são as responsabilidades do poder público. Não aceito, e inquieto-me e denuncio, que as políticas públicastenhamreconhecimento por algumas modalidades e esqueça outros cidadãos portugueses que também trazem títulos para Portugal. Como se sente perante isso?
triste ao ver atletas medalhados esquecidos pelos políticos portugueses —Triste e amargurado. Mas não sou só eu, são os dirigentes das federações, os atletas... Não imagina a quantidade de queixas que recebo relativamente a essa matéria. E o Comité Olímpico nunca fica de braços cruzados. Nunca fui para a opinião pública denunciar casos em particular, mas utilizo as vias protocolares e institucionais para fazer chegar a quem de direito a nossa desolação. Ou manifesto a nossa disponibilidade para criar critérios que levemem linha de conta a importância dascompetições,demodoque quem esteja no âmbito da decisão política perceba...