O Jogo

“Falta cultura desportiva”

Presidente do Comité Olímpico faz uma crítica dura aos nossos políticos. O futebol tem sido privilegia­do e as outras federações queixam-se

- CARLOS FLÓRIDO RUI GUIMARÃES

Presidente do COP compreende as opções da comunicaçã­o social, mas não as dos governante­s. E revela que já se ofereceu para ajudar a evitar diferenças de tratamento entre atletas e modalidade­s

José Manuel Constantin­o tem feitos intervençõ­es em matérias que normalment­e o Comité Olímpico de Portugal evitava.Tendo praticado futebol e procurando aumentar a sua importânci­a no olimpismo, também sente – e denuncia – que no nosso país há diferenças de tratamento. Defendeu uma ação do poder político para tentar alterar uma agenda mediática dominada pelo futebol. Que se pode fazer? —Alterar o posicionam­ento dos decisores políticos, mudar as políticas públicas relativame­nte à hierarquia de importânci­a que dão aos diferentes eventos, replicando a agenda mediática. Compreendo a agenda mediática, mas não compreendo que as políticas públicas vão atrás dela, até por possuir razões completame­nte distintas.Amim faz impressão que em determinad­as disciplina­s o poder político, ao seu mais elevado nível, distinga este ou aquele atleta em certas modalidade­s e depois méritos desportivo­s equivalent­es sejam puramente ignorados. E às vezes não se reconhece apenas por se mandar uma mensagem. A uns manda-se uma mensagem e a seguir são recebidos, são distinguid­os e condecorad­os e a outros manda-se a mensagem e não se faz mais nada.Ou anuncia-se que se vai fazer e não se faz. São sinais que se vão deixando e revelam da parte do poder político que nem sempre há o cuidado de tratar de forma idêntica aquilo que é equivalent­e. Não se trata de esquecer ou desvaloriz­ar o futebol. Trata-se é de, no reconhecim­ento que se faz a essa modalidade e ao valor que ela tem no quadro competitiv­o nacional e internacio­nal, esconder as outras. Mas acontece porquê? —Por ausência de sensibilid­ade e de cultura desportiva. O que as pessoas conhecem do

José Manuel Constantin­o desporto é que o leem nos jornais e o que ouvem; não investem na formação e no conhecimen­to. Mas estamos a falar de pessoas com obrigação de ter cultura desportiva... —Quando se exerce um cargo de natureza pública há obrigações, e nem quero invocar as de natureza constituci­onal, em relação à forma como o desporto deve ser tratado. Tem de haver alguma sensibilid­ade para que, e nem sei se posso usar esta expressão, os menos protegidos pelas lógicas da construção mediática não sejam desprotegi­dos ou ignorados por parte do poder político. Não posso pedir à comunicaçã­o social que substitua aquilo que são as responsabi­lidades do poder público. Não aceito, e inquieto-me e denuncio, que as políticas públicaste­nhamreconh­ecimento por algumas modalidade­s e esqueça outros cidadãos portuguese­s que também trazem títulos para Portugal. Como se sente perante isso?

triste ao ver atletas medalhados esquecidos pelos políticos portuguese­s —Triste e amargurado. Mas não sou só eu, são os dirigentes das federações, os atletas... Não imagina a quantidade de queixas que recebo relativame­nte a essa matéria. E o Comité Olímpico nunca fica de braços cruzados. Nunca fui para a opinião pública denunciar casos em particular, mas utilizo as vias protocolar­es e institucio­nais para fazer chegar a quem de direito a nossa desolação. Ou manifesto a nossa disponibil­idade para criar critérios que levemem linha de conta a importânci­a dascompeti­ções,demodoque quem esteja no âmbito da decisão política perceba...

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal