O Jogo

Um obstáculo chamado Carlos Queiroz

- Jorge Costa

Portugal defronta amanhã o Irão, uma seleção por quem muitos não davam nada e que está a discutir o apuramento. Ao comando desta seleção está uma pessoa que muito admiro, Carlos Queiroz, que, juntamente com o Costa Soares, foi uma das pessoas mais importante­s na minha formação como homem e como futebolist­a. Conheci-o muito bem, porque passámos muitas horas juntos ao serviço das seleções jovens e mais tarde foi também meu treinador na Seleção principal. Carlos Queiroz é um obstáculo que Portugal tem de ultrapassa­r. A ironia do destino levou a esta situação ingrata, mas a globalizaç­ão do futebol deu nisto... Carlos Queiroz é um obstáculo porque sabe o que faz e o que pode exigir dos seus jogadores; é também um mestre na arte da motivação. Recordo-me que um dia fomos jogar uma final de sub-16, com a Espanha e em Espanha. Lembro-me de que ele nos disse para metermos o nosso melhor penteado e estarmos aprumadinh­os, porque a seguir ao jogo íamos fazer a festa e queria que todos estivessem impecáveis. E ganhámos essa final! Tem destes pormenores que, acredito, vai usar com os jogadores do Irão, para quem é como um pai. Claro que ele hoje é diferente do que quando foi meu selecionad­or nas camadas jovens, mas saberá usar esses pormenores para ter os jogadores sem qualquer pressão. É bom não esquecer que o Irão vai jogar, provavelme­nte, o jogo mais importante de toda a sua história, porque nunca esteve nesta posição num campeonato do mundo. É uma seleção em cresciment­o fruto do trabalho que Queiroz vem fazendo há sete anos. E esse será, só por si, um fator extra de motivação, que irá dar ainda mais raça à equipa. Claro que o Irão precisa de ganhar o jogo se quiser seguir para os oitavos, mas não acredito que Queiroz vá mudar a maneira de jogar do Irão, porque ele tem consciênci­a das limitações da equipa, sabe muito bem até onde é que ela pode ir, gerindo essas limitações com manobras de estratégia para as quais é preciso estar preparado. Estamos habituados a ver um Irão a defender e não será diferente contra Portugal. Não se muda de um dia para o outro a forma de jogar e Queiroz não tem tempo para o fazer.

Acredito que vamos ter um Irão muito bem organizado defensivam­ente, à espera de conseguir um contra-ataque ou um lance de bola parada. Será isto o Irão. E aqui há outro perigo: Portugal vai ter bola, até durante a maior parte do jogo, mas tem de se precaver para o fator ilusório, porque pode ficar com a ideia de que será fácil, “que eles só defendem”, quando do outro lado está uma equipa que está preparada para ser humilde e cínica ao mesmo tempo.

Confio, espero e desejo, uma grande vitória portuguesa (o professor Carlos Queiroz que me desculpe...). Vamos ver um Portugal a mandar no jogo, mas terá de ser matador e não deixar que o adversário tente impor o seu jogo. Terá de ser Portugal a obrigar o Irão a errar, mas acima de tudo terá de ser uma seleção muito concentrad­a em jogo, porque um pequeno deslize pode ser fatal, a controlar muito bem os níveis de ansiedade, e senhora do seu nariz, ou seja, somos campeões europeus, esperam de nós o melhor, e nós temos todas as condições para continuar na prova, e sabe-se lá até onde. Portanto, força, Portugal, porque precisamos de sorrir outra vez.

O Irão não vai mudar a sua forma de jogar. Não se muda de um dia para o outro. Vamos ter bola, mas há que ter cuidado

Carlos Queiroz é um

mestre a motivar jogadores. Já era assim quando dirigia

os jovens

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Jogo do Bicho

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