O Jogo

Os mil e um alvos de Carlos Queiroz

- Pejman Rahbar Editor-chefe da agência Varzesh 3

Aminha primeira memória das equipas portuguesa­s vem de longe, de jogadores como Fernando Gomes e Manuel Bento. Portugal preparava o Mundial’86 e as revistas de desporto iranianas cobriam os trabalhos. Gomes, que havia ganho duas Botas de Ouro, e o imbatível Bento, na baliza, eram os meus favoritos. Tirando a vitória do Brasil sobre a Espanha, com um golo de Sócrates, o jogo que vi foi o Inglaterra-Portugal; um grande golo de Carlos Manuel decidiu o vencedor. Foi o começo de uma eliminação muito triste. Lembro-me do dia em que vi o resultado do Portugal-Marrocos na revista semanal iraniana “Donyaye Varzesh”. Quase não acreditei no que os meus olhos liam: Portugal perdera 3-1. Portugal, que era a minha equipa favorita de todo o Mundial, não se qualificar­ia para a segunda fase, numa triste eliminação que pode acontecer hoje outra vez.

A superestre­la Ronaldo é tão adorada como odiada pelos adeptos iranianos, consoante a preferênci­a por ele ou por Messi. Sem dúvida, nenhum cidadão iraniano gostaria de o ver marcar o golo da vitória com o Irão. Devo mencionar que Ronaldo é mais popular ainda, no nosso país, do que Carlos Queiroz. Até há dois anos, Queiroz talvez fosse a figura mais popular do futebol iraniano. Entretanto, os conflitos constantes com o Persépolis (o nosso clube mais popular) resultaram num decréscimo grande de simpatia entre os apoiantes desse emblema. No entanto, estou certo de que até os adeptos do Persépolis só lhe desejam o melhor para o jogo de hoje. Toda a gente vê este dia como uma oportunida­de para os jovens jogadores iranianos brilharem no palco do Mundial. Vale a pena sublinhar que nove dos que atuaram com a Espanha têm menos de 25 anos de idade.

Esta jovem equipa, que admira muito o seu treinador português, elevou ao máximo as expectativ­as do público iraniano. O povo sonha com a primeira qualificaç­ão de sempre para os oitavos de final, um feito histórico para o nosso futebol. No Twitter, é esse o tema dominante, cheio de esperança e sentido de humor. Seria o legado destes sete anos sob a direção de Carlos Queiroz, como pai da seleção iraniana. No segundo jogo do Mundial, a Espanha marcou um golo nos minutos iniciais da segunda parte. A resposta do Irão, em toda a meia hora seguinte, foi bastante boa e resultou num grande aumento de confiança dos jogadores antes de alinharem contra Portugal para a terceira jornada. Há quatro anos, o Irão teve uma possibilid­ade similar de se qualificar para os “oitavos”, se batesse a Bósnia. No entanto, aquele Mundial havia corrido de outra forma, já que a equipa tinha perdido o segundo jogo com a Argentina, graças a um golo tardio de Messi que destruiu completame­nte o moral dos jogadores.

O Irão-Portugal também é palco de mais um duelo entre Messi e Ronaldo. Messi exibiu as suas habilidade­s há quatro anos e o CR7 precisa de mostrar a sua magia diante dos defesas iranianos. Se os rapazes de Queiroz forem capazes de o parar, fica dada a resposta à rejeição de Ronaldo a Queiroz em 2010. Esse é um dos maiores desejos de Queiroz, um homem decidido a ensinar uma última lição tanto a Ronaldo como à federação portuguesa, e mesmo aos seus críticos no Irão. Ele quer mostrar que é o melhor, mesmo acima de Fernando Santos, por quem tem admiração pessoal.

Se os rapazes de Queiroz forem capazes de o parar, fica dada a resposta à rejeição de Ronaldo a Queiroz em 2010. Ele quer mostrar que é o melhor, mesmo acima de Santos, por quem tem admiração pessoal

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