REZAM PARA QUEIROZ NÃO SE IR EMBORA
EVOLUÇÃO No Irão desde 2011, o treinador garantiu dois Mundiais e a forma como combate os obstáculos fora de campo transformou-o num herói
O luso já esteve várias vezes perto de deixar o cargo, desalinhado com a federação. A aposta nos jovens trouxe resultados a uma equipa que disfarça as limitações com a organização defensiva
“Ele apoia-nos desde que chegou, luta por nós e mostranos o caminho. Aprendemos com ele todos os dias, temos orgulho que ele seja um de nós e vamos rezar para que fique connosco.” A frase é de Karim Ansarifard, avançado do Irão, e diz respeito ao treinador Carlos Queiroz. O desabafo, após a vitória (1-0) com Marrocos, é o reflexo da adoração que o português recolhe naquele país asiático que o recebeu em 2011, poucos meses depois de Queiroz ter saído da Seleção Nacional.
No Irão, a crença de que a Team Melli pode chegar à segunda fase pela primeira vez não é apenas legitimada pelo caos que o futebol proporciona, mas também pelo trabalho que tem sido desenvolvido por Carlos Queiroz nos últimos sete anos. Depois de ter qualificado esta seleção para o Mundial do Brasil, onde teria roubado pontos à Argentina não fosse o génio de Messi ao cair do pano, o Irão espalhou consistência no longo processo de apuramento asiático para o Mundial da Rússia, como mostra o quadro ao lado. Entre a fase de grupos no Brasil e o desaire recente com a Espanha, o Irão não perdeu qualquer jogo oficial – foram 23 partidas invicto. Para conseguir isto, Queiroz revolucionou as convocatórias com a aposta em jogadores jovens, que, segundo o treinador, “refrescaram o entusiasmo e o orgulho”.
Consciente das suas limitações, o Irão aposta forte na segurança defensiva, que segundo uma análise da RTÉ, órgão decomunicaçãosocialdaIrlanda, está num “nível de beligerância e organização que Donald Trump espera que não seja extensível ao corpo diplomático do Irão”. Isto remetenos para os desafios fora de campo. O boicote da marca desportiva Nike, a dias da estreia no Mundial, foi só o último exemplo das consequênciasqueassançõeseconómicas internacionais têm na equipa; em 2014, as verbas provenientes da participação no Mundial estiveram bloqueadas pelos bancos. Delinear jogos de preparação é difícil, porque muitas equipas recusam-se a jogar com o Irão, como aconteceu com a Grécia e o Kosovo, na antecâmara do Mundial’2018.
Só que Queiroz, que apela ao investimento em infraestruturas e formação, não se conforma. “Detesto a indiferença. Não sou um treinador que se curve perante as pessoas. O meu dever é dar as melhores condições aos meus jogadores”, afirmou em 2015. Insatisfeito com a federação iraniana, o treinador já bateu com a porta, no mínimo, quatro vezes. Acabou sempre por ficar e resta saber se é mesmo desta que Queiroz deixa o Irão órfão.