UM MUNDIAL COM LUGAR PARA OS PERDEDORES
Ontem, na Arena Portugal, houve festa rija de um derrotado. Aliás, goleado: o Panamá sofreu seis golos, mas marcou um que fica na história por ser o primeiro do país na prova
Uma goleada é sempre difícil de engolir, mas os panamianos só se importaram com o único golo da sua seleção no jogo com a Inglaterra. O futebol tirou o Panamá do anonimato, dizem os adeptos
O objetivo de um desafio de futebol não é só enfiar bolas na baliza da equipa adversária. Ninguém nega que ganhar é o que provoca explosões de alegria, seja nos estádios da Rússia ou na Arena Portugal, montada no Terreiro do Paço, em Lisboa. Mas há outras vitórias que também contam – e muito – para este campeonato.
Marcar presença neste Mundial é o suficiente para deixar alguns perdedores felizes. Tão felizes que até festejam uma goleada dos ingleses como se fosse uma vitória. É que um golo do Panamá não é um golo qualquer. “É o primeiro da nossa história no Mundial e o primeiro de muitos que vão acontecer no futuro”, explica Rachelle Varale, adepta da Cidade do Panamá a estudar na Escola Naval de Lisboa.
O Panamá tem muita coisa de que se orgulhar, desde a “pollera”, o traje típico das mulheres, às festas do Cristo Negro ou o Sancocho, o prato nacional, conta ela. Mas já cansa que o resto do mundo só faledoCanaldoPanamáquando se lembra deste país encaixado entre a Costa Rica e a Colômbia.
É o futebol que vai finalmente tirar o Panamá do anonimato: “Já tirou, aliás, quando a nossa seleção se apurou para este Mundial.” O dia foi histó- rico,talcomoontem,mascom direito a feriado nacional e festa de arromba a aparecer nas televisões de todo o mundo. “Foi inesquecível, mesmo para mim e para os meus amigos que vivemos à distância, esse grande momento”, conta Rachelle.
E, agora, a história repete-se, diz Evick Rios, garantido, que, se na Arena Portugal os adeptos eram pouco mais do que meia dúzia, pelo Panamá inteiro houve “milhões” de adeptos a delirar com o golo que Ávila marcou ao minuto 78 contra os ingleses. “Tenho a certeza de que houve muitas lágrimas e gritos de alegria”, dizopanamiano,confessando que também acabou por chorar “como uma criança”, após a proeza da sua seleção. Bem quemereciam“maisumferiado”, conclui o panamiano.