O Jogo

UMA MEDALHA FEITA DE PAIXÃO

JOGOS DO MEDITERRÂN­EO Inês Monteiro fez uns bons 5000 metros e festejou a primeira medalha individual a nível internacio­nal, após um calvário de seis operações

- Enviado especial a Tarragona [Espanha] bbb Textos RUI GUIMARÃES

No dia em que as expectativ­as estavam em Patrícia Mamona e Susana Costa, foi nos 5000 metros que a medalha surgiu no atletismo. São já 19 em Tarragona: três ouros, seis pratas e dez bronzes “A ambição, a teimosia, a paixão pela corrida e a minha filha, a quem quero dar a mãe como um exemplo, dão-me a força de vontade.” Palavras sentidas de Inês Monteiro poucos minutos depois de ganhar a medalha de prata nos 5000 metros dos Jogos do Mediterrân­eo – a 19.º de Portugal, sendo três de ouro, seis de prata e dez de bronze –, num dia em que até se esperava mais do triplo salto. Susana Costa e Patrícia Mamona eram as únicas finalistas olímpicas presentes, mas foram quinta e sexta, respetivam­ente.

“Já ninguém acreditava que eu regressass­e e, para ser sincera, tive momentos em que pensei ser impossível”, admitiu a atleta natural da Guarda, de 38 anos, que em 2010 sofreu uma lesão grave, uma tendinose rotuliana que a obrigou a seis operações e ao mesmo número de épocas afastada do atletismo. “Todos os diagnóstic­os que me davam eram maus, tiravam as esperanças. Na última cirurgia, o doutor Paulo Carvalho disseme: ‘Vou fazer tudo por ti, tudo o que sei, mas não tenhas grandes esperanças de regressar’”, contou Monteiro, que fez os 5000 metros em 15m54,78s, a melhor marca pessoal do ano. “Na altura, só lhe pedi para me pôr em condições de fazer uma vida normal”,

“Fiquei contente porque aos três quilómetro­s, como ainda íamos muitas juntas e o ritmo já não estava fácil, achava que não iria ao pódio”

Inês Monteiro

Prata nos 5000 metros “Fiquei um bocadinho aziada, mas faz parte. Na verdade, sei que também não posso pedir muito mais, porque não tenho consistênc­ia”

Patrícia Mamona

Triplo salto

continuou Inês, reconhecen­do que “é difícil ouvir estas palavras quando se está a passar momentos difíceis”.

A verdade é que depois de um início de carreira promissor – em 1999 foi campeã da Europa de juniores em cortamato – e de já ter ganho medalhas na Taça dos Campeões Europeus de crosse e de pista pelo Sporting, este foi o seu primeiro pódio individual após o “calvário” que superou. “Agradeço às pessoas que acreditara­m em mim, e às que me deixaram também agradeço, porque se o fizeram, é sinal de que estavam a mais na minha vida”, desabafou Inês Monteiro, antes de deitar um olhar sobre a prova em que apenas a marroquina Kaoutar Farkoussi se revelou superior. “Fiz a melhor marca deste ano e uma boa classifica­ção, juntei o útil ao agradável. Vou muito satisfeita. Não vinha propriamen­te descansada, porque estou a preparar o campeonato da Europa de Berlim. É aí que tenho o foco”, disse. A atleta do Sporting percebeu depressa que a francesa Marie Bouchard não estava no seu melhor e deixou a espanhola Ana Lozano puxar, atacando antes da última volta. A marroquina aguentou a aceleração e revelou-se mais rápida no final.

Mas a jornada começara com o triplo salto. Patrícia Mamona queria lutar pelas medalhas, mas cedo se percebeu que a campeã europeia, vinda de uma operação ao joelho esquerdo, em dezembro, ainda não atinge a velocidade dos seus momentos de forma. “Vamos caminhando, porque agora o mais importante é conseguir ter provas e ritmo para estar bem nos Europeus”, lembrou, admitindo: “Custou um bocadinho, porque sabia que estava a valer mais. Quero ir corrigir o que estive a fazer mal.”

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