MEDOS & MITOS Uma ideia para a vitória
que mais me preocupa em relação ao percurso de Portugal neste campeonato do mundo é que nenhum jogador que agora levante a cabeça veja outra coisa senão montanhas para escalar. Dito de outro modo: quem quer que conceba a sua vida depois de superar o Uruguai vai adivinhar a seguir um duelo com a Argentina ou a França, depois com o Brasil ou a Bélgica e, finalmente, com a Espanha ou a Inglaterra. Foi isso que aqueles dois golos malditos nos últimos minutos do Grupo B, o de Espanha a Marrocos e o do Irão a Portugal, fizeram: atiraram-nos para a metade do quadro que prometia ser pior e veio a revelar-se muito pior. Nesse sentido, é tudo muito diferente do Campeonato da Europa, em que o único verdadeiro monstro que tivemos de suplantar foi precisamente a França, na final. Portanto, se estou temeroso? Estou, pois claro que estou. Mas o medo é o primeiro ingrediente de qualquer combate consciente à adversidade. Aquilo que os jogadores de Fernando Santos têm de saber hoje, ao entrarem em campo, é que será muito difícil superar Suárez e companhia. Será difícil e ainda bem, porque se fosse fácil jamais nos prepararia para o que ainda nos espera a seguir. O resto é uma conjugação de entrega, capacidade de sofrimento, sentido de oportunidade, sorte e tudo o mais que constitui essa receita sempre irrepetível para o sucesso. E, já agora, uma dose quanto baste de autoconfiança: não só Ronaldo é melhor do que Suárez como, se nos pusermos a comparar as duas equipas jogador a jogador, provavelmente seremos melhores em dois terços das comparações. Falta o quê, a garra? Mas os uruguaios são mesmo mais aguerridos do que nós? Quando passámos a confundir a garra com dar dentadas, afinal?