Não é só tendo a bola que se domina o jogo
C inco das oito equipas que estão nos quartos de final tiveram menos de 50% de posse de bola no jogo dos “oitavos”, entre eles o Brasil e a França e também a Suécia, o Uruguai (que defrontou Portugal) e a Rússia, que teve apenas a bola 21,1% do tempo frente à Espanha dos 1137 passes (os russos venceram nos penáltis). Há quem diga, assim, que a posse de bola está ultrapassada. Portugal foi campeão da Europa com 44% de posse de bola nos jogos a eliminar e só em 15 dos 51 jogos do França’2016 quem dominou a bola, dominou (ganhou) o jogo, conforme o relatório da UEFA na altura sublinhou. Mas será eventualmente pouco prudente tirar conclusões disto para todo o futebol. Desde logo, é ver o quadro da posse de bola dos vencedores das principais ligas europeias, todos acima dos 50%. Convém não esquecer que as seleções têm muito menos tempo para trabalhar os seus movimentos do que os clubes e, portanto, é difícil terem resultados tão elevados. Mesmo assim, há quatro anos, no Brasil, os dois finalistas (Alemanha e Argentina) foram as equipas com as mais altas taxas de posse (66 e 63%, respetivamente). Há dias, Cesc Fàbregas dizia na BBC que a Espanha tinha a posse da bola “mas para nada, acho até que tinha mais para não ter de defender do que para atacar”. Para quem se lembra do FC Porto de Lopetegui isto tem alguma familiaridade. Há quem tenha a conceção do futebol como o jogo dos erros e quem tem a bola é que os comete normalmente. Jurgen Klopp é um treinador muito dessa escola de pensamento, do ataque rápido e apanhando o adversário desorganizado. Com bons resultados no geral. Mas esse jogo mais de contra-ataque, de que a Bundesliga ou a Ligue 1 francesa são paradigmas, não conseguem grandes resultados nas competições europeias de clubes. Mas normalmente vence quem tem mais a bola, como se vê nos campeonatos nacionais. Hoje há uma dimensão física do jogo muito forte, decisiva por vezes – o FC Porto de Sérgio Conceição, Marega e Tiquinho –, mas muito ligada à objetividade do ataque. Ter a bola, normalmente, ainda é um seguro de vida – sem a bola, o adversário não mete golos.