O Jogo

“Músculo aparece porque não há inovações táticas”

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1 A questão atlética tem-se sobreposto neste Mundial?

—Antes de mais, este Mundial é muito aborrecido.Nãohánovid­adestécnic­as,ouqualquer outra, e por isso às vezes corre-se muito. Muitas das equipas nos quartos de final não mereciam lá estar. O Brasil aparece muito organizado, mas não é novidade. O Uruguai está menos organizado, mas tem melhores jogadores. Há jogos muito maus. A Inglaterra tem estado muito mal, apenas o Kane parece lúcido. A Rússia não mereceu apurar-se, apesar de a Espanha jogar muito mal. O Japão, por exemplo, pareceu mais competente, disciplina­do, com uma vontade férrea e dinâmico, como é hábito, de resto. A Bélgica tem muitos bons jogadores, mas não tem harmonia e tem defesas mais fracos do que parece. Hazard e De Bruyne desencontr­am-se em campo. Essa ideia de um futebol mais atlético já a ouço desde os anos 60 e foi assim que a Alemanha ganhou nos anos 70. A Espanha de 2010 e a Alemanha de 2014 ganhavam este Mundial com uma perna às costas.

2 Mas a dimensão atlética não tem exercido alguma influência, até pela falta de qualidade?

—Não, vejo um Mundial sem inovações. Mbappé é um grande jogador, mas é um decalque do Ronaldo de 1998 e de Cristiano Ronaldo. Apesar de ser atleticame­nte forte, muito veloz, admiro-o mais pelo futebolist­a que é. Essa ideia de investir na vertente atlética sempre esteve presente no FC Porto [a propósito da proposta de Sérgio Conceição]. Recordo que, há uma dúzia de anos, o Real Madrid tentou essa via, contratand­o Diarra e Emerson, e foi um desastre. O melhor jogador do Mundial é Modric, que apesar de baixo, é muito forte fisicament­e, mas destaca-se é pelo cérebro e pés. E o outro é Rakitic, a mesma coisa. O lado físico, o músculo, só aparece porque não há novidades táticas e técnicas e há muitos maus treinadore­s.

3 É um mau Mundial?

—Só não é pior do que o Itália’90, porque pior do que isso só a morte. Os protagonis­tas dos últimos anos não apareceram; falo de Xavi [retirado da cena internacio­nal], Messi e Cristiano Ronaldo. A França depende mais da habilidade de Mbappé e Griezmann do que do poder de Pogba.

Jornalista espanhol, comentador da BeIN, Onda Cero e cronista do DN no Mundial’2018

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