O Jogo

As raízes da nova Inglaterra

Quatro titulares e oito dos convocados têm ADN das Caraíbas

- RODRIGO CORTEZ

O património genético caribenho terá, de alguma forma, contribuíd­o para acrescenta­r uma componente mais criativa à equipa dos Três Leões, que era habitualme­nte menos virtuosa

Do onze inicial que no sábado derrotou a Suécia por 2-0, assegurand­o o apuramento da Inglaterra para as meias-finais do Mundial, nada menos do que quatro elementos têm raízes familiares caribenhas: Sterling, que até foi um dos melhores em campo, nasceu na Jamaica, país de onde são originário­s os pais de Walker e de Ashley Young. Lingard, por sua vez, é descendent­e de cidadãos de São Vicente e Granadinas, arquipélag­o que fica a sudeste do país do reggae e dos melhores velocistas do mundo.

Na restante convocatór­ia da seleção inglesa constata-se a presença de mais quatro jogadores com raízes familiares nas Caraíbas: Rose (Jamaica), Loftus-Cheek, Delph (ambos da Guiana) e Rashford (São Cristóvão e Nevis).

Por via de um fenómeno migratório que teve maior relevância a seguir à II Guerra Mundial, quando os ingleses sentiram grande necessidad­e de mão de obra estrangeir­a, a comunidade jamaicana, que é a mais significat­iva de entre os vários países que compõem o Caribe, tem cerca de 300 mil pessoas em Inglaterra. Em áreas como a música ou o desporto, a influência sempre foi visível, destacando-se no futebol britânico jogadores de eleição como Cunningham, Dwight Yorke, Ian Wright, Les Ferdinand ou, de entre os que ainda estão em atividade mas não foram agora convocados, Walcott e Sturridge.

A influência caribenha na seleção é cada vez mais notória e há mesmo quem defenda a existência de um forte contributo para um aperfeiçoa­mento da anterior identidade tipicament­e inglesa. Ao famoso “kick and rush”, variante do português “pontapé para a frente”, foi acrescenta­da uma componente criativa, naturalmen­te adquirida pela genética africana (92 por cento dos caribenhos descendem

Para além da Inglaterra, também há descendent­es de caribenhos na seleção francesa (Kimpembe, Lemar e Varane) e na belga (Witsel)

de africanos), por um lado, e pela influência do futebol sulamerica­no, por outro. “Se tens habilidade natural e a conjugas com a capacidade de treino, então estás em vantagem. Se compreende­s o jogo e ao mesmo tempo te sentes feliz e confortáve­l com a bola nos pés, essa é uma ótima conjugação. Nas Caraíbas, as pessoas são naturalmen­te atléticas. E se lhes juntas o lado tático e de treino, então tornaste imparável”, explicava numa entrevista à “Vice” o futebolist­a Joel Grant, internacio­nal jamaicano que nasceu e cresceu em Inglaterra.

Refira-se que entre as outras seleções semifinali­stas no Mundial, também França e Bélgica têm jogadores com raízes caribenhas.

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