As raízes da nova Inglaterra
Quatro titulares e oito dos convocados têm ADN das Caraíbas
O património genético caribenho terá, de alguma forma, contribuído para acrescentar uma componente mais criativa à equipa dos Três Leões, que era habitualmente menos virtuosa
Do onze inicial que no sábado derrotou a Suécia por 2-0, assegurando o apuramento da Inglaterra para as meias-finais do Mundial, nada menos do que quatro elementos têm raízes familiares caribenhas: Sterling, que até foi um dos melhores em campo, nasceu na Jamaica, país de onde são originários os pais de Walker e de Ashley Young. Lingard, por sua vez, é descendente de cidadãos de São Vicente e Granadinas, arquipélago que fica a sudeste do país do reggae e dos melhores velocistas do mundo.
Na restante convocatória da seleção inglesa constata-se a presença de mais quatro jogadores com raízes familiares nas Caraíbas: Rose (Jamaica), Loftus-Cheek, Delph (ambos da Guiana) e Rashford (São Cristóvão e Nevis).
Por via de um fenómeno migratório que teve maior relevância a seguir à II Guerra Mundial, quando os ingleses sentiram grande necessidade de mão de obra estrangeira, a comunidade jamaicana, que é a mais significativa de entre os vários países que compõem o Caribe, tem cerca de 300 mil pessoas em Inglaterra. Em áreas como a música ou o desporto, a influência sempre foi visível, destacando-se no futebol britânico jogadores de eleição como Cunningham, Dwight Yorke, Ian Wright, Les Ferdinand ou, de entre os que ainda estão em atividade mas não foram agora convocados, Walcott e Sturridge.
A influência caribenha na seleção é cada vez mais notória e há mesmo quem defenda a existência de um forte contributo para um aperfeiçoamento da anterior identidade tipicamente inglesa. Ao famoso “kick and rush”, variante do português “pontapé para a frente”, foi acrescentada uma componente criativa, naturalmente adquirida pela genética africana (92 por cento dos caribenhos descendem
Para além da Inglaterra, também há descendentes de caribenhos na seleção francesa (Kimpembe, Lemar e Varane) e na belga (Witsel)
de africanos), por um lado, e pela influência do futebol sulamericano, por outro. “Se tens habilidade natural e a conjugas com a capacidade de treino, então estás em vantagem. Se compreendes o jogo e ao mesmo tempo te sentes feliz e confortável com a bola nos pés, essa é uma ótima conjugação. Nas Caraíbas, as pessoas são naturalmente atléticas. E se lhes juntas o lado tático e de treino, então tornaste imparável”, explicava numa entrevista à “Vice” o futebolista Joel Grant, internacional jamaicano que nasceu e cresceu em Inglaterra.
Refira-se que entre as outras seleções semifinalistas no Mundial, também França e Bélgica têm jogadores com raízes caribenhas.