Sretno, Hrvatska!*
P or estes dias, a Croácia é a Cinderela do futebol mundial. Mas esta Croácia esconde um paradigma que preocupa as mentes pensantes da sociedade local. Muito embora o país esteja, por estes dias, envolvido numa euforia que levou, inclusivamente, a que a indumentária oficial do último Conselho de Ministros do Governo croata fosse a camisola da seleção, a vitória dos croatas no Mundial da Rússia – sim, porque estar na final já é um triunfo retumbante – encobrirá as assimetrias e as desconfianças que assolam a competição doméstica. Graves lacunas infraestruturais, pouco público nos estádios, falta de competitividade dum campeonato composto por dez equipas jogado a quatro voltas, e as constantes suspeitas de tráfico de influências, principalmente ao nível das arbitragens, em beneficio de um clube dominante, ensombram a liderança que a exestrela de Real Madrid e da geração de ouro croata de 1998, Davor Suker, exerce na federação (HNS) desde 2012. Suker é tido como testa de ferro de Zdravko Mamic, considerado o homem mais poderoso do futebol croata, “criador” do atual Dínamo de Zagreb e ex-dirigente da federação croata. Mamic foi condenado há cerca de dois meses a seis anos e meio de prisão efetiva por corrupção, evasão fiscal e apropriação indevida de fundos relacionados com as transferências de algumas das principais figuras da seleção que brilha agora Rússia e que representavam o Dínamo de Zagreb durante o consulado de Mamic (Modric, Lovren, Kovacic, Vrsaljko, entre outros). Mamic, aproveitando a dupla cidadania croata/bósnia, atravessou a fronteira no dia anterior à leitura da sentença, ficando a salvo de um pedido de extradição, mas Damir Vrbanovic, número dois de Mamic no Dínamo Zagreb e atual diretor executivo da federação croata, também condenado no processo a três anos e meio de prisão, continua confortavelmente sentado ao lado de Davor Suker nas tribunas VIP dos estádios russos em representação da HNS. Perante este cenário, existe na sociedade croata o sentimento ambíguo de que um triunfo na final de hoje elevará o país ao Olimpo futebolístico mas, em contraponto, solidificará o poder federativo personificado em Davor Suker, adensando os receios de que uma seleção croata do nível da que subirá hoje ao relvado do Luzhniki, apenas seja possível pelo facto de 21 dos seus 23 elementos atuarem fora do país. De qualquer forma, o meu desejo para hoje é: SRETNO, HRVATSKA!