“Isto é cumprir as regras”
O Santa Clara voltou à I Liga com um treinador sem habilitações e enfrenta um processo disciplinar em que o relator do CD propõe perda de pontos. José Pereira defende a legalidade
Para o presidente da associação de classe dos treinadores, a questão nem tem discussão: se os clubes fazem os regulamentos, devem cumpri-los. O facto de só um poder perder pontos é outra história
Pelaprimeira vez,um clube enfrenta o risco de perder pontos por apresentar no banco um treinador sem habilitações. Em causa está o Santa Clara, recentemente conduzido ao escalão principal por Carlos Pinto, 45 anos, que só neste verão passou a ter o curso de grau III exigido para liderar uma equipa técnica na II Liga – mudou-se entretanto para o comando da Académica, um dos clubes cuja queixa está na origem do processo; ooutroéo União da Madeira, despromovido ao terceiro escalão, de onde espera ser resgatado à custa dos açorianos, aos quais já tentara, sem sucesso, subtrair pontos na secretaria, por incumprimento da regra de utilização de atletas sub-23. Para José Pereira, presidente da Associação Nacional de Treinadores de Futebol( ANTF ),“isto éo cumprimento das regras ”. É também, reconhece, o reflexo de haver alguém a tentar “tirar vantagem” de uma situação que nãoé inédita. Há duas épocas, Carlos Pinto treinou o Paços de Ferreira, na I Liga; já por essa altura e também neste último campeonato, Pepa, Petit e Silas, no Tondela, Moreirense e no Belenenses, respetivamente, colecionaram multas do Conselho de Disciplina (CD) federativo por estarem no banco a dar instruções para a equipa, procedimento exclusivamente permitido ao treinador principal, sem estarem habilitados para o efeito. Perante isto, a dimensão do castigo proposto para o Santa Clara, à luz da interpretação feita pelo relator do CD que deduziu acusação, surpreende. Sem qualquer juízo de valor, José Pereira limita-se a admitir que “se o Santa Clara for punido, provavelmente alguém tirará vantagem dessa situação”: “Provavelmente, noutros clubes não adiantou fazer queixa porque não tirariam vantagem.” Para o representante da associação de classe dostrein adores, o que não faz sentidoéo crónico incumprimento por parte de quem dita as regras. E ele até nem concorda que sejam os clubes a fazê-las: “Uma pessoa pode ser ótima advogada, mas não tendo carteira profissional, não pode exercer; eu posso ser um ótimo motorista de pesados e não posso exercer, porque só tenho carta de ligeiros. Istoéo cumprimento das regras e, perante isso, não há mais qualquer tipo de comentário. Os regulamentos são feitos pelos clubes! Quanto a mim, está mal. Mas não há razão absolutamente nenhuma para não cumprirem os próprios regulamentos.” A ANTF tem insistido, a nível federativoe da Liga, para que delegados e árbitros sejam rigorosos a verificar se os treinadores principais no banco coincidem com os nomes na ficha de jogo.