Fora da caixa Joel Neto
Se os resultados dos esforços de Sousa Cintra e Torres Pereira forem suficientes para que lhes creditemos o resgate do Sporting ao abismo, então será justo recordarmos em primeiro lugar esta conquista das claques leoninas para o processo. É claro: as claques estão interessadas na reconciliação, enquanto o mercado do futebol não sente propriamente uma obrigação de colaborar. Mas a (re) constituição do plantel e a (re) negociação de contratos são, apesar de tudo, de alcance mais conjuntural do que a redução da margem de desvio das claques. Nesta, sim, se encontra a pedra de toque do saneamento do clube. Não interessa se foi esta ou aquela claque. Foram as claques que levaram Bruno de Carvalho ao poder, foram as claques que o mantiveram lá, foram as claques que transportaram para o domínio da guerrilha urbana a atmosfera que ele criou e podem ser as claques a fazer isto tudo voltar para trás. Naturalmente, há uma dimensão não negligenciável de “realpolitik” na ação de Sousa Cintra e Torres Pereira. Com este gesto de pacificação, estes também comunicaram que estão disponíveis para não afrontar os interesses que gravitavam originalmente em torno das claques, e que a alteração da posição relativa da Juve Leo – sobretudo desta – na hierarquia do clube veio viciar. Terão de ser os novos dirigentes a lidar com isso. Mas não havia uma maneira melhor do que esta de lidar com o problema. As claques deviam ter menos peso do que têm nos clubes e os clubes já deviam ter desenvolvido melhores mecanismos de controlo sobre as suas claques. Mas que haveriam Sousa Cintra e Torres Pereira de fazer, em meia dúzia de dias, contra um “statu quo” que o laxismo e o oportunismo lusitanos tão laboriosamente moldaram?