Neste Vitória não haverá pontapé para a frente
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Um amigo meu costuma dizer que não gosta de futebol. Gosta é do Vitória. Não irei tão longe. Mas verdade é que as saudades de ver o Vitorinha jogar já eram mais que muitas e nem horas e tardes e noites de Mundial na Rússia serviram de remédio contra esse mal. Quando a questão chega ao Vitória, estamos a falar de outra coisa.
Foi ótimo, por isso, há oito dias ter tratado dessas saudades. Dos sete mil nas bancadas num domingo de manhã já nem vale a pena falar. Aquilo que em quase todos os clubes seria um feito de relevo, no Vitória é apenas mais um dia no escritório.
Vale mais a pena, sim, falar das primeiras impressões. Primeiro, as coletivas. A mudança de paradigma está aí, para quem a quiser ver. Neste Vitória não haverá jogo direto, pontapé para a frente, chutões e coisas do género. Haverá posse de bola, trocas de bola, paciência e tentativa de controlo do jogo. Confesso que tenho as minhas reservas quanto a este sistema. Não apenas pelo jogo em si, mas sobretudo porque tenho dúvidas do sucesso de um sistema implementado por intérpretes que, sendo bons jogadores, não são os melhores do mundo. Às vezes, uma boa ideia é estragada porque falha um dos elos na cadeia. Esperemos que não seja assim.
Individualmente, para além dos destaques óbvios de Tyler Boyd, que partiu a loiça toda, da influência evidente e expectável de André, da forma física invejável e qualidade técnica de Davidson, deixem-me destacar a excelente impressão que me deixou Joseph, a mostrar a sua classe no meio-campo e a provocar um arrepio na espinha daqueles que viram jogar N’Dinga por aquelas paragens há umas décadas atrás.
O resultado, sendo o que menos conta (mas conta), podia ter sido mais folgado e só não foi porque se cometeram dois erros que são daqueles para serem cometidos agora.
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Já na quinta-feira, pudemos assistir a mais uma excelente apresentação do plantel no coração do nosso centro histórico. Um ótimo espetáculo, muito bem organizado, onde estiveram mais uns milhares. Os vitorianos tiveram direito a uma surpresa e meia: a apresentação de João Carlos Teixeira e o anúncio da vinda de Dodô. Do primeiro, tenho as maiores expectativas, esperando que ele finalmente solte na sua plenitude toda a qualidade que se sabe que ele tem e que ele também sabe ter. Quanto ao segundo, só conheço os dados do seu percurso e pouco ou nada mais. Acima de tudo, a sua chegada parece revelar que as dúvidas que muitos vitorianos tinham para aquela posição eram afinal partilhadas por Luís Castro. Mas mais do que as surpresas, foi importante constatar que o Vitória fez o trabalho de casa. A estrutura-base do plantel está feita e a trabalhar. E isto vai permitir que, daqui até 31 de agosto, com a tranquilidade de quem já fez muito, o Vitória possa, se assim se proporcionar, retocar aqui ou ali; aproveitar um bom negócio, mas tudo sem a pistola apontada à nossa cabeça. Ou seja, como tudo deve ser.
As saudades de ver o Vitorinha jogar já eram mais do que muitas e nem horas e tardes e noites de Mundial serviram de remédio contra esse mal”