“No Daguistão havia tiroteios diários nas ruas”
Em 12 anos a jogar no estrangeiro, Hugo Almeida colecionou aventuras e peripécias. À chegada ao Werder Bremen, foi praxado com “shots”; já no Anzhi teve de dormir no estádio, ao som de disparos
A longa carreira de Hugo Almeida, que se tornou num interessante “globetrotter” no estrangeiro, daria um mirabolante filme de ação, com apontamentos de comédia. Tudo começa na Alemanha, no pós-FC Porto.
Quando faz uma retrospetiva à sua carreira, em que costuma pensar?
—Arrependo-me de algumas coisas, mas tenho muito orgulho no meu trabalho e nas pessoas que confiaram em mim.
É verdade que a passagem pelo Anzhi [Rússia] foi um pesadelo?
—Quando assinei pelo Anzhi, pensei que iria morar em Moscovo, mas não foi assim. Depois do estágio da pré-época, na Áustria, deu um vaipe ao presidente e ele decidiu que todos os jogadores iriam morar no Daguistão. Assistir a cenas macabras: havia tiroteios diários nas ruas e presenciei atropelamentos estranhos. Vivíamos dentro do estádio. Era como se tivesse voltado aos meus 14 anos, quando morava no lar do FC Porto. Não saía dali. Para morrer que morressem os outros. Aguentei até janeiro, depois fui para o Hannover. Foi um ano dramático.
No Werder Bremen deparou-se com uma praxe bizarra, a envolver bebidas?
—Os jogadores novos no clube tinham de beber um “shot” por cada jogador antigo. Quando lá cheguei, eu e outros três jogadores tivemos de beber mais de 20 “shots”.
Aguentou de pé até ao fim?
—De pé, não sei, mas aguentei [risos]. É claro que não fiquei bem, era impossível ficar bem, mas são estas brincadeiras, estas pequenas coisas que tornam o grupo mais unido e feliz.
Em campo, chegou a ser guarda-redes, pelo AEK...
—Aí uns 10 minutos. O nosso guarda-redes tinha sido expulso e estávamos nas meias-finais da Taça da Grécia, contra o Olympiacos. Era um dérbi. Como não convinha mexer na defesa, sobrou para o maior. Estávamos empatados (1-1) e já tínhamos vencido a primeira mão, pelo que bastava aquele resultado para seguirmos em frente. Correu bem, chutaram ao lado e só tive de fazer uma defesa.