O Jogo

Vencedor entre os que queriam anular a etapa

Louletano festejou a dobradinha mas o calor foi um problema

- CARLOS FLÓRIDO

“Um corredor furou à minha frente, tive de travar e caí. Não fosse isso e iria disputar o sprint” César Martingil Liberty Seguros-Carglass

Numa etapa alentejana em que as temperatur­as atingiram os 45 graus, os bombeiros ajudaram os corredores e estes acabaram a protestar com uma queda no sprint que poderia ter mudado a geral

Vicente Garcia de Mateos seguiu a roda do colega Luís Mendonça e selou uma vitória inesquecív­el do Aviludo-Louletano em Portalegre, com os algarvios a provarem estar ainda mais fortes este ano. Mas o espanhol terminou de dedo nos lábios, como que mandando calar os críticos e servindo o gesto como resposta à suspensão preventiva que o antidoping espanhol lhe havia aplicado por ter encontrado valores anómalos no passaporte biológico. E ramais um pequeno foco de polémica para acrescenta­rà discussão, es sabem acalorada, de se terem corrido mais 203 quilómetro­s sob temperatur­as insuportáv­eis e a outra, que também chegou a aquecer, sobre a aplicação do mesmo tempo na meta a todo o pelotão, quando um pequeno grupo, encerrado em Raúl Alarcón, tinha obtido ligeira vantagem, a suficiente para tirar a camisola amarela a Rafael Reis. O colégio de comissário­s considerou que fora uma queda coletiva, iniciada em César Martingil, a gerar as pequenas diferenças.

Com o Louletano a celebrar de forma eufórica, tão poucas são as ocasiões em que uma equipa modesta faz primeiro e segundo numa etapa da Volta, De Mateos não explicou o gesto – “Está tudo falado”, disse – e preferiu lembrar ir no quarto ano consecutiv­o a obter triunfos na prova ou apontar ao sonho de conquistar a maior corrida nacional, algo que o famoso clube não consegue há 30 anos. Mas se realmente estava tudo dito, a verdade é que Vicente só alinhou porque o Tribunal Administra­tivo do Desporto espanhol anulou a pena, ao considerar que um atleta não pode ser penalizado sem ser ouvido, mas não travou a investigaç­ão. O êxito de ontem será condiciona­l até ao dia em que se tomar uma decisão sobre as análises antidopage­m do sprinter que se transformo­u em corredor completo.

Mas o gesto foi um mero detalhe no dia mais quente do ano, que levou o pelotão a pedalar a 35 km/h, a gastar uma média de 15 “bidons” por ciclista – entre os bebidos e os despejados na cabeça e costas – e a agradecer aos bombeiros alentejano­s os chuveiros improvisad­os ao longo dos 203 km. Foi mais um dia para a história e cumprido com tanto desembaraç­o que os corredores acabaram por se limitar a protestar com o acesso sinuoso à reta da meta. César Martingil caiu, a bicicleta fez tombar mais uns quantos e, com isso, o júri eliminou as diferenças entre os da frente e os restantes. Rafael Reis, que continua de amarelo, agradeceu.

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