O ambiente certo para carros elétricos
O JOGO colocou pela primeira vez um carro totalmente ecológico na Volta e os corredores, que se sentem prejudicados pela poluição, dizem que esse é o futuro Os carros das equipas já são renovados anualmente, mas há cada vez mais problemas de asma gerados
“Faz todo o sentido, num meio em que os atletas dependem do ar que respiram, ter carros elétricos. Aliás, acredito que podem desempenhar aqui um papel simbólico, que poderemos utilizar esses veículos para dar um exemplo”, opinou Filipe Cardoso, um dos mais famosos corredores da Rádio Popular-Boavista, depois de registar com surpresa a novidade que O JOGO introduziu na Volta a Portugal deste ano: a reportagem faz-se transportar num Nissan Leaf, o primeiro automóvel elétrico a cumprir uma grande corrida por etapas.
A atual geração de carros elétricos já permite, a jornalistas, cumprir as exigências que uma corrida de ciclismo coloca – 200 a 300 quilómetros diários e limitações de tempo nos carregamentos –, mas ainda será difícil a sua utilização por equipas, que transportam bicicletas, muito peso em abastecimentos e não podem fazer paragens para recarregar baterias a meio das etapas. Será, no entanto, uma questão de (poucos) anos, pois estão a chegar baterias com autonomias superiores a 400 quilómetros. “O futuro é esse. Já vemos muitos elétricos e híbridos na estrada e a partir de 2020 serão vulgares. Será inevitável tê-los nas equipas de ciclismo. Todos nós andamos, desde as camadas jovens, a respirar o fumo da gasolina e do gasóleo que sai dos escapes”, anota Sérgio Paulinho, líder de uma equipa patrocinada por uma empresa de materiais elétricos, a Efapel.
Manuel Correia, diretor desportivo da Liberty SegurosCarglass, foi corredor numa era bem diferente. “Íamos daqui até França nas Peugeot 404 e 405. Pedalávamos entre essas carrinhas, algumas a fumegar, por terem muitos anos. Agora, as equipas renovam a frota automóvel todos os anos, ou de dois em dois, mas em contrapartida o ar que respiramos está cada vez mais poluído. Em algumas cidades, os ciclistas notam-no bem”, diz, agradado ao ver o Leaf de O JOGO. “Sou apologista de carros elétricos”, rematou.
Mas é Sérgio Paulinho a fazer o mais importante alerta. “Em competição sentimos mais a poluição, por levarmos o corpo ao limite, por nos falhar a respiração. No ciclismo há cada vez mais problemas de asma e não são um acaso, são um derivado da poluição. Temos diferenças em relação a outras modalidades. Pedalando até 200 quilómetros e com o pulso a 170 ou 180, ficamos com problemas de saúde devido ao ambiente que temos”, diz, juntando uma conclusão às suas revelações: “Os carros elétricos serão uma solução”.
“No ciclismo há cada vez mais problemas de asma e não são um acaso, são um derivado da poluição” Sérgio Paulinho
Efapel “Os carros elétricos podem desempenhar no ciclismo um papel simbólico, estarem nas equipas para dar um exemplo” Filipe Cardoso
RP-Boavista