A MEDIDA DO COPO Como eu começo
N ão, o copo não está nem meio cheio nem meio vazio. Por um lado, a redefinição dos regulamentos e das prioridades internacionais, imposta a pretexto de uma dúbia ideia de modernidade, todos os anos resulta um pouco mais em desfavor dos campeonatos nacionais com as dimensões e as dinâmicas do nosso. Por outro, a nossa própria tendência para a automutilação – através da conflitualidade, da violência, da corrupção, da gestão de circunstância – aumenta exponencialmente os efeitos da agressão externa. Não há grandes razões para esperarmos melhores dias para o futebol português, em suma, e a cada época que começa os nossos clubes estão um pouco mais longe do pelotão da frente da Europa, coletiva como individualmente. O copo vai, na melhor das hipóteses, dois terços vazio. Mas, no arranque desta liga em particular, eu prefiro considerar que vai um terço cheio. Há quase 20 anos que não tínhamos o país tão representado na I Liga e isso, para alguém que viveu décadas na cidade e hoje vive na província, tem de ser uma boa notícia. Depois de a Beira, o Algarve e Trás-os-Montes terem regressado ao grupo dos maiores, regressam também os Açores. Do Desportivo de Chaves ao Portimonense, do Marítimo e do Nacional ao Desportivo das Aves e ao Moreirense, do Tondela ao Vitória de Setúbal, do Rio Ave ao Feirense e ao Santa Clara: desde 1990-2000 que não estavam presentes tantas regiões de fora do eixo Lisboa-Porto-Braga. Das regiões tradicionais, só o Alentejo não tem qualquer representante. E isso significa necessariamente duas coisas. A primeira é que há hoje mais cidades do país determinadas a não se deixarem esquecer. A segunda é que há hoje mais cidades com condições para isso. Há tempo para nos lamentarmos. Hoje é dia de comprazimento.