O Jogo

Novo serviço de limpeza para o célebre Dirty Leeds

O Leeds United tenta levantar-se e sacudir-se pela mão imprevisív­el de Marcelo Bielsa, meio século após a revolução de Don Revie

- FILIPE ALEXANDRE DIAS

A equipa inglesa que mais medo infundia na viragem das décadas de 1960 para 70 aposta na excentrici­dade para voltar ao topo. Os jogadores apanham lixo das bancadas e começaram... a ganhar

Agora de Marcelo Bielsa, o Leeds já foi o United de Inglaterra quando era de Don Revie. Explicamos melhor: o Manchester United passou a ter o segundo nome a dispensar o primeiro quando nos anos 1990 voltou em força aos títulos, mas na década de 1970, o clube de Old Trafford caiu de escantilhã­o para a segunda divisão, era já o Leeds a mais temida equipa do futebol inglês. Dizer United... era dizer Leeds. Liderados pelo seu feroz capitão, Billy Bremner, os peacocks limparam a concorrênc­ia, mas, paradoxalm­ente, passaram a ser conhecidos por Dirty Leeds ao não avisarem tíbias adversária­s. Era esquadrão pouco dado a enfeites, cortesia também de símbolos como Jack Charlton, Norman “Morde-Pernas” Hunter, Allan Clarke e Johnny Giles, entre outros. Quase tudo teve como “mastermind” o treinador Don Revie, um fanático por detalhes que trilhou um caminho diferente, tal como o que agora se tenta desbravar com o excêntrico argentino. Bielsa obrigou os jogadores a apanhar o lixo das bancadas para saberem o que sofrem os adeptos que pagam para os ver jogar. Já irritou a FIFA e começou o Championsh­ip a ganhar (ler caixa em anexo) .

Tal como Don Revie, Bielsa limpa o Leeds. Nos anos 1960, Revie retirou o clube da sujeira da insignific­ância. Mudou o símbolo e o equipament­o do clube para branco, a fazer lembrar o Real Madrid; fazia relatórios inéditos sobre adversário­s; era ele quem massajava os jogadores; promovia estágios nada usuais; impunha dietas e era uma figura paternal. Dois títulos de campeão inglês, uma Taça de Inglaterra, uma Taça da Liga, uma Supertaça, duas Taças de Cidades com Feira e muitas outras finais internas e europeias perdidas depois – tudo entre 1965 e 1974, num clube que antes ganhara zero e que ele trouxera da terceira divisão –, Revie saiu para comandar Inglaterra. Mas a conversa sobre lixo voltou. O Dirty Leeds passou a ser comandado pela sua némesis, Brian Clough. Na primeira preleção aos jogadores, que o execravam por ser crítico do seu estilo viril, Clough aconselhou-os a atirar todas as suas medalhas... para o lixo, por as terem ganho a jogar de modo desleal. A passagem acrimonios­a de Clough por Leeds durou 44 dias e está documentad­a – com muitas liberdades tomadas com a realidade – no best-seller tornado filme “The Damned United”.

A glória só voltou aos peacocks em 1992, no título de campeão com Strachan e Cantona nas fileiras. O Dirty Leeds voltou a cair no lixo, atolou-se em dívidas, foi desgoverna­do e quer voltar ao topo pela mão imprevisív­el de Bielsa.

“Espero não vos aborrecer”, disse Bielsa na passada semana. Isso deve ser difícil...

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Marcelo Bielsa tenta devolver o Leeds aos dias de glória no futebol inglês

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