Gedson ea intuição inteligente
Q uais ministros negociando ora no Conselho Europeu ora na Assembleia da República, cá estamos nós, caros amigos, neste vaivém entre a Liga dos Campeões e o campeonato nacional. Com o Fenerbahçe, foram dois jogos eufemísticos, em que não poupámos na prudência e, ainda assim, conseguimos uns rasgos bonitos. A seguir, virá o PAOK. Se este modesto cronista puder deixar um recado, diria que há que virar o registo de “bacalhau basta”. É que de “estratégias de gestão de esforços”, está cheio o inferno dos eliminados... Pois, há que olhar em frente. Além da passagem, houve outros dados positivos, claro. E um acima de todos. Adivinham do que estou a falar, não é verdade? Sim, passámos a eliminatória com os turcos em modo mínimo, mas confirmámos o talento de um miúdo máximo.
Gedson é o caso feliz de um supercraque tímido. Um daqueles que se transformam em palco, com a bola nos pés. Tenho estado a ler “Blink” de Malcom Gladwell, um livro sobre o que há de intuição na inteligência: a páginas tantas, compara-se a comédia de improvisação com o basquetebol, para dizer que a espontaneidade dá muito trabalho. Pensei no nosso jovem médio ao ler isso. O miúdo tem muita “cultura tática”, como notaram os especialistas, mas depois tem também o descaramento da decisão rápida. No teatro de improvisação, a grande regra é aceitar o que os outros atores nos dão. Nos relvados do mundo, Gedson tem o mesmo tipo de
Gedson é o caso feliz de um supercraque tímido. Daqueles que se transformam em palco, com a bola nos pés
generosidade e entrega; nunca se furta ao jogo, aceita cada problema com a teimosia de um filósofo, cada bola com a garra de um caçula a jogar na praia. Como traz uma boa bagagem de preparação, sente-se livre para decidir no calor do momento. Não estranharia se trouxesse bordado, no verso do manto sagrado, aquele ensinamento famoso de Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres.”
Ontem, a questão era outra. Para a partida com o Boavista, faltava-nos Jonas e Castillo. Íamos para jogo com um ponto de interrogação na frente. Felizmente, Ferreyra respondeu. À meia hora, fez uma demonstração quase científica da tal intuição inteligente: uma bola sacada de surpresa na área a dois defesas axadrezados e, zás, golo. Não sei se Gladwell vê “soccer”, mas teria gostado. Gedson foi outra vez o miúdo máximo, Pizzi continua a revelar-se goleador e Ferreyra quebrou o enguiço. Não podíamos pedir mais — ou antes, podíamos: vamos à reconquista?