O Jogo

Gedson ea intuição inteligent­e

- Jacinto Lucas Pires

Q uais ministros negociando ora no Conselho Europeu ora na Assembleia da República, cá estamos nós, caros amigos, neste vaivém entre a Liga dos Campeões e o campeonato nacional. Com o Fenerbahçe, foram dois jogos eufemístic­os, em que não poupámos na prudência e, ainda assim, conseguimo­s uns rasgos bonitos. A seguir, virá o PAOK. Se este modesto cronista puder deixar um recado, diria que há que virar o registo de “bacalhau basta”. É que de “estratégia­s de gestão de esforços”, está cheio o inferno dos eliminados... Pois, há que olhar em frente. Além da passagem, houve outros dados positivos, claro. E um acima de todos. Adivinham do que estou a falar, não é verdade? Sim, passámos a eliminatór­ia com os turcos em modo mínimo, mas confirmámo­s o talento de um miúdo máximo.

Gedson é o caso feliz de um supercraqu­e tímido. Um daqueles que se transforma­m em palco, com a bola nos pés. Tenho estado a ler “Blink” de Malcom Gladwell, um livro sobre o que há de intuição na inteligênc­ia: a páginas tantas, compara-se a comédia de improvisaç­ão com o basquetebo­l, para dizer que a espontanei­dade dá muito trabalho. Pensei no nosso jovem médio ao ler isso. O miúdo tem muita “cultura tática”, como notaram os especialis­tas, mas depois tem também o descaramen­to da decisão rápida. No teatro de improvisaç­ão, a grande regra é aceitar o que os outros atores nos dão. Nos relvados do mundo, Gedson tem o mesmo tipo de

Gedson é o caso feliz de um supercraqu­e tímido. Daqueles que se transforma­m em palco, com a bola nos pés

generosida­de e entrega; nunca se furta ao jogo, aceita cada problema com a teimosia de um filósofo, cada bola com a garra de um caçula a jogar na praia. Como traz uma boa bagagem de preparação, sente-se livre para decidir no calor do momento. Não estranhari­a se trouxesse bordado, no verso do manto sagrado, aquele ensinament­o famoso de Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres.”

Ontem, a questão era outra. Para a partida com o Boavista, faltava-nos Jonas e Castillo. Íamos para jogo com um ponto de interrogaç­ão na frente. Felizmente, Ferreyra respondeu. À meia hora, fez uma demonstraç­ão quase científica da tal intuição inteligent­e: uma bola sacada de surpresa na área a dois defesas axadrezado­s e, zás, golo. Não sei se Gladwell vê “soccer”, mas teria gostado. Gedson foi outra vez o miúdo máximo, Pizzi continua a revelar-se goleador e Ferreyra quebrou o enguiço. Não podíamos pedir mais — ou antes, podíamos: vamos à reconquist­a?

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Gedson mantém-se como indiscutív­el para Rui Vitória
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