O Jogo

Aventura terminou com falsa partida

- Miguel Pedro

O Braga, nestes dois jogos, parece lidar mal com a vantagem, que tem um efeito de aumentar o nervosismo defensivo

Uma profunda desilusão. Foi este o sentimento que se instalou no universo braguista após o jogo da passada quinta-feira contra os ucranianos do Zorya e que culminou com o muito prematuro afastament­o do SC Braga da Liga Europa. Abel Ferreira, no final do encontro, desalentad­o, assumia o objetivo perdido. Acabava-se a aventura europeia do Braga com uma falsa partida. A desilusão foi tanto maior porquanto estava instalado o otimismo no início do jogo. A voz corrente no estádio, antes de começar o jogo, era de que se tratava de “favas contadas”; falavam alguns de uma goleada, e outros temperavam tal ímpeto com um paternalis­ta “apesar de tudo, é sempre preciso mostrar em campo que somos superiores”. Tal otimismo até se compreendi­a: por um lado, o jogo caseiro contra o Nacional, a abrir o campeonato, mostrou um Braga rápido, agressivo e a responder muito bem a uma equipa do Nacional bastante empenhada, que se fartou de pressionar e de correr (cujos jogadores acabaram estourados nos últimos 15 minutos do jogo, período em que o Braga teve oportunida­des para golear); por outro lado, não parecia possível perder uma eliminatór­ia que vinha quase ganha da primeira mão, não só pelo bom resultado, mas principalm­ente porque o Braga tinha mostrado grande superiorid­ade sobre a equipa ucraniana nesse jogo. Por isso, o que se passou na Pedreira fez estremecer todos os adeptos, jogadores, técnicos e dirigentes do Braga. A verdade é que o jogo do Nacional já tinha feito antever algumas fragilidad­es defensivas deste Braga de início de época, que parece ter dificuldad­e em aguentar a vantagem no marcador. O que sucedeu contra o Zorya veio confirmar este deficit defensivo. O Braga, nestes dois jogos, parece lidar mal com a vantagem que tem um efeito de aumentar o nervosismo defensivo. Sabemos, no entanto, que nem tudo está perfeito quando ganhamos, nem tudo está mal quando perdemos. Esta equipa do SC Braga de 2018/19 tem muito valor e, estou convencido, irá proválo ao longo da época nas competiçõe­s nacionais. Não podemos pensar que as saídas de Vuckevic, de Danilo, de Jefferson ou de Ricardo Horta não teriam impacto na equipa. Foram jogadores nucleares no plantel que amealhou os 75 pontos no campeonato 2017/18. Os novos jogadores que entraram nesta época demorarão o seu tempo a ganhar o ritmo necessário para se tornarem o mais eficientes possível e a equipa tem de ser construída paulatinam­ente a partir desta constataçã­o. António Salvador, no final do jogo, fez aquilo que lhe competia, desdramati­zando a situação e invocando a memória da época de 2009/10, em que um afastament­o prematuro da Liga Europa conduziu o Braga à sua melhor classifica­ção de sempre (2.º lugar). Mas verdadeira­mente o que me deixou satisfeito, no meio daquele sentimento de desalento que custou a passar, foi ver a reação do público presente no estádio no final do jogo, apoiando e incentivan­do a equipa, percebendo que os jogadores tudo deram para termos outro desfecho, mas, como sabemos, no futebol, nem sempre a melhor equipa ganha.

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