Futebol “baralha” contas
Frente a frente de João Benedito com Frederico Varandas trouxe pontos convergentes na remodelação do scouting e das modalidades, mas também cisões nos assuntos mais delicados
“Vou contratar um diretor desportivo que faça ligação entre presidente e treinador e um team manager ligado aos atletas”
“Vamos trazer um CEO de excelência que é o melhor em Portugal a fazer essa função. Ele será comandado pelo Conselho Diretivo” João Benedito Candidato à presidência
“Eu só quero um team manager. Este terá a cultura de Sporting e vai facilitar a vida ao treinador, que só vai treinar”
“Temos de ganhar mais dinheiro com a Champions. Os rivais têm receitas muito superiores e, assim, não podemos ser competitivos” Frederico Varandas Candidato à presidência
Com respeito mútuo e longe do burburinho do debate a sete, o clínico e o antigo futsalista concordaram em discordar de temas como a escolha de capitães ou os modelos de gestão da SAD, entre outros
Bem diferente da confusão que reinou no debate a sete, o frente a frente de ontem entre João Benedito e Frederico Varandas decorreu num num clima pacífico, onde, durante cerca de 50’, ambos concordaram em discordar de pontos específicos dos seus programas, sobretudo ao nível do futebol e da situação financeira.
Foi precisamente na discussão sobre a estrutura do futebol profissional que ocorreu a primeira cisão. “Queremos quebrar o modelo onde o presidente está próximo do treinador. Vamos contratar um diretor desportivo que faça essa interligação e, depois, ter um team manager mais ligado ao dia a dia dos atletas”, explicou Benedito, motivando resposta pronta de Varandas. “Eu só quero um team manager. Este terá cultura de Sporting e que facilite a vida ao treinador, que terá apenas de se preocupar com o treino”, frisou.
A discussão também se alargou à futura escolha de capitães. “Vejo sempre as lideranças tendo em conta uma pessoa. Todos os atletas têm de saber que, na equipa, há uma unidade que passa sempre a última palavra”, apontou o antigo futsalista, enquanto o clínico prefere outra estratégia: “Discordo do João. O capitão tem de jogar e ter força de balneário e tem de ser acompanhado por dois ou três subcapitães. Os plantéis têm grupos e temos de escolher duas ou três pessoas de cada um para ter o grupo na mão.”
Em relação à situação financeira, João Benedito voltou a defender um incremento de 30 milhões de euros ao empréstimo obrigacionista lançado com o mesmo valor e a aposta num CEO para a SAD. “Vamos trazer um CEO de excelência que é o melhor em Portugal a fazer essa função. Ele será comandado pelo Conselho Diretivo”, afirmou. Fazendo valer as diferenças entre os modelos, já após ter desafiado Benedito a revelar o nome do CEO, sem sucesso, Varandas garantiu que a sustentabilidade financeira só pode ser resolvida com bons resultados desportivos. “Temos de ganhar mais dinheiro com a Champions. Os rivais têm receitas muito superiores e, assim, não podemos ser competitivos”, sublinhou.
Os dois candidatos também defenderam a necessidade de mudar radicalmente o paradigma do scouting, para recuperar o terreno perdido para os rivais nos últimos anos, e a aposta nas modalidades. “Ao ouvir falar de modalidades autossustentadas fico logo eriçado. Elas trazem valor ao clube e o esforço que tem de ser feito é para colocá-las na linha da frente”, afirmou Benedito, enquanto Varandas deu ideias para conquistar mais receitas: “Temos de ganhar e exponenciar merchandising e patrocínios. Também é importante coordenar os jogos de futebol com os das modalidades.”
No final, os dois candidatos ainda esgrimiram argumentos sobre as claques, com Benedito a acusar Miguel Cal – homem escolhido por Varandas para o pelouro estratégico, de marketing e de operações do Sporting – de ter sugerido a extinção destas, algo que foi veementemente negado pelo antigo médico dos leões.