QUANDO O MÉRITO NÃO CHEGA
Há equipas que têm o direito a jogar nas provas nacionais, mas optam por não o fazer
A maioria dos emblemas aponta as questões financeiras como justificação para não se inscrever, mas há outros fatores. O Ferreirense, da I Liga de futebol feminino, deixou as provas por vazio diretivo
Chegar às provas nacionais é a ambição da esmagadora maioria dos clubes que milita nas distritais. O esforço e sacrifício de uma época são avaliados no final, quando se somam os pontos e se vê que sobe ou não de divisão. Esta subida é entendida como o prémio... mas nem todos o querem. Ou, pelo menos, nem todos aceitam a subida.
Das 22 associações distritais de Portugal, há nove com casos de clubes que, nas mais diversasmodalidadeseescalões, optam por não ocupar a vaga a que têm direito pelo mérito desportivo. É o caso do Clube Académico do Mogadouro, de Bragança. A equipa de seniores está desde a temporada de 2015/16 na II Divisão nacional de futsal. Esta época, a equipa de juniores podia juntar-se aos mais velhos no escalão nacional, mas o clube liderado por Carlos Ribeiro abriu mão da vaga.
“Estamos num meio pequeno, muito longe do litoral e não temos apoios. Íamos ter duas equipas no nacional, mas tivemos de excluir uma porque não temos poder financeiro para as duas. Além da vertente económica, na equipa de juniores tínhamos três ou quatro a passar a seniores e vão estudar para fora... Foram dois anos brilhantes. Eu gostava de participar, se tivesse mais apoios, mas foi a decisão mais razoável”, explica o dirigente.
Pensamento idêntico teve Arlindo Fernandes, presidente da ACD Soito, que desistiu da II Divisão nacional de futsal apesar de ter sido campeão da AF Guarda. “Não temos condições para lá andar. Somos um clube pequeno e ficaríamos uma despesa elevada à Federação. Não íamos aguentar e optamos por ficar no distrital. É uma questão de responsabilidade”, relatou quando deixou a vaga da sua equipa para o Dínamo Sanjoanense, do distrito de Aveiro. Esta, note-se, não é situação nova na AF Guarda, já que em 2008/09, a equipa de Fornos de Algodres conquistou a hipótese de subir da então III Divisão para a II Divisão B... mas cedeu o lugar a outro.
Também em Aveiro há um clube que abandona a prova nacional. O União Recreativa Ferreirense, clube fundado em dezembro de 1916, e que atualmente só se dedicava ao futebol feminino como desporto federado, foi oitavo classificado na última edição da Liga Allianz, lugar que lhe valeu a permanência no principal escalão do futebol feminino nacional. Desde 2006 na prova maior do futebol feminino, de onde saiu este ano Ana Lopes para reforçar a equipa do Benfica, a desistência nada teve a ver com fatores económicos. A extinção da equipa deveu-se a um impasse diretivo, provocado pela saída de Manuel Ferreira, que nos últimos dois anos fora presidente, deixando para trás 12 anos como diretor desportivo. Com esta desistência, o Ouriense, que foi o melhor segundo classificado da fase de subidadoCampeonatodePromoção 2017/18, acabou repescado e vai jogar a prova maior do futebol feminino, organizada pela Federação Portuguesa de Futebol. Na próxima temporada, o distrito de Aveiro contará com dois representantes neste campeonato, com data de início marcada para 16 de setembro, o Clube de Albergaria e a Ovarense.
Mas há mais clubes nesta situação. O Mosteirense, da AF Portalegre, o Lamego, da AF Vicom
seu, e o Pontassolense, da AF Madeira, são exemplos disso. Dosclubesinsulares,ninguém quis ocupar a vaga deixada pelo emblema de Ponta do Sol. “A falta de alguns apoios não permitiu que se inscrevessem. Os valores do transporte aéreo complicam um bocadinho as deslocações. Os clubes têm de fazer contas”, resumiu Rui Marote, presidente da associação madeirense, indicando as vicissitudes comuns aos emblemas das ilhas.
No sentido contrário, em face das desistências, há associações cujos clubes beneficiam e acabam por chegar aos nacionais. É o caso da AF Braga, onde o Taipas ocupou a vaga do clube da Madeira. Aliás, metade dos clubes da Série A do Campeonato de Portugal (nove) é deste distrito. “As três maiores associações de futebol do país – Lisboa, Porto e Braga – acabaram por beneficiar”, assume Manuel Machado, presidente da associação bracarense.
Nos escalões de formação também há casos idênticos. Na AF Beja, o campeão de futebol juvenil, Moura AC não aceitou a participação, tendo sido a vaga ocupada pelo segundo classificado, o Despertar SC, e o campeão dos iniciados, o SC Cuba recuou na intenção de participar na prova nacional do escalão, e mais nenhum clube de Beja aceitou a participação.