Ricciardi no seu labirinto
ma sondagem eleitoral num clube de futebol tem sempre um grau de eficácia menor, porque se trata de um sufrágio restrito em que, ainda por cima, imperam várias condicionantes: a efetiva associação, a sua longevidade, o grau de compromisso ou o próprio acesso às urnas de cada putativo eleitor. Definir uma amostra representativa é exigente e aplicá-la quase uma quimera, porque a seguir ainda entra em jogo a disponibilidade dos votantes para se deixarem inquirir. Mas eu pergunto-me: e se Ricciardi perder, de facto, as eleições no Sporting? Se Ricciardi perder, de facto, as eleições no Sporting, e nomeadamente se as perder para Frederico Varandas ou João Benedito, então os leões terão consolidado duas decisões que, na verdade, já haviam tomado com Bruno de Carvalho. A primeira é a de rejeitar – perentória e talvez agora definitivamente – o regresso da chamada elite ao topo da estrutura do clube. E a segunda é a de manter pelo menos uma certa dose de populismo na liderança, o que, bem vistas as coisas, não tenho a certeza de que não seja reflexo de uma certa confusão em torno da primeira decisão. Isto quanto ao clube. Quanto a Ricciardi, dizer o quê? Um homem com tal apelido e tal currículo, ademais convicto de que o colapso do seu banco – e do projeto de família que nele representava – se deve a toda a gente menos a si, sentir-se-á como, se perder? Ora aí está numa explicação que poderá dizer alguma coisa não só sobre a identidade de um clube, mas de um país. Até porque, se os números que aí andam já são humilhantes, uma tendência para a bipolarização do voto pode agravá-los. Como sair de casa no dia seguinte – será airosa o suficiente, para Ricciardi, a ideia de que se tratou apenas de um impulso de paixão?