A BOCA DO LOBO
É quentinha e tem dentes
ASanjoanense quis anunciar novos recrutamentos nas escolas e escolheu brincar com Ronaldo e os filhos. É um gesto quase inocente, até com graça, mas que não deixa de evidenciar o que o capitão da Seleção significa no futebol de hoje, aqui como lá fora. A simples palavra “Ronaldo” gera milhões de cliques. Um prémio que não tenha Ronaldo entre os finalistas não alcançará visibilidade. Um clube que anuncie a contratação de Ronaldo começa de imediato a amortizar em camisolas. O inconveniente está à vista: três jogos oficiais sem marcar dão notícia no mundo inteiro. É uma comoção: a seca, a crise, a angústia. Se não podemos dramatizar com os golos, dramatizamos com a falta deles – o que importa é podermos usar o nome de Ronaldo. Como é evidente, quem quer que perceba um mínimo de futebol sabe que uma putativa crise de três jogos, ademais num novo país, numa nova liga e numa nova equipa (que, ainda por cima, continua a ganhar os jogos), não é uma crise. Nem sequer uma seca. Acontece que o futebol já não é só futebol: é também o seu ruído. E mesmo a Ronaldo, o mais determinado dos futebolistas deste tempo – o homem que, se fosse preciso, teria inventado as palavras “vontade indómita” –, isto acaba por condicionar. Mais que não seja, é má publicidade. Ou terá algum de nós ilusões quanto ao facto de ter sido a pré-época em Itália a fazer o júri da UEFA entregar a Modric um troféu que pertencia, por direito, ao português? Encaremo-lo: são muitos anos de CR7-Messi – muitos suspiram por um novo nome (mesmo que não seja tão novo assim). E também pode ser isso a tirar a Cristiano o seu sexto The Best. Desde logo, darem-lhe o Prémio Puskás como consolação será uma maneira quase airosa de o roubarem...