O Jogo

“Estou a vencer esta luta”

Tengarrinh­a fala sobre a batalha que o obrigou a encerrar carreira de jogador

- MIGUEL NUNES AZEVEDO

Curado do cancro que o levou a pendurar as chuteiras aos 28 anos, Tengarrinh­a lembrou os momentos difíceis pelos quais passou.

Como foi o regresso ao Vitória?

—Quando deixe ide jogar futebol,comecei a trabalhar para ser treinador, que era um dos meus objetivos. Entretanto, fruto dos anos em que aqui joguei, mantive boas relações com as pessoas deste clube e, quando souberam que estava a estagiar no Olímpico do Montijo, falaram comigo para me juntar à equipa técnica do projeto dos sub-23.

Principalm­ente pelas circunstân­cias, foi difícil a passagem de jogador para treinador?

—Eu queria ser treinador, mas não esperava que fosse tão cedo. Ninguém está à espera da notícia, mas, como eu sempre quis ficar ligado ao mundo do futebol, penso que esta foi a opção que fez mais sentido. Quando temos este tipo de doenças, torna-se difícil fazer projetos para o futuro, mas quando decidi que iria terminar a carreira, ser treinador passou a ser o grande objetivo. É bom termos alguns projetos para ajudar a superar a situação.

Como descobriu que tinha a doença?

—Logo em janeiro de 2017 comecei a notar algum cansaço, uma maior perda de peso e também alguma indisposiç­ão, mas nunca dei grande importânci­a. Ao fim de uns meses fui jogar para a Roménia e logo nos primeiros dias desmaiei duas vezes. Assim que fiz os primeiros exames, as análises mostraram que algo não estava bem. Regressei no dia seguinte para Portugal, fiz mais exames no Hospital de Santa Maria e fui internado de imediato. A primeira pergunta que fiz aos médicos foi se poderia voltar a jogar futebol. No entanto, naqueles primeiros vinte e poucos dias em que estive internado, tomei a decisão de que a minha vida iria tomar outro rumo.

O caso gerou uma grande onda de solidaried­ade. Foi importante para si sentir aquele apoio de tanta gente?

—Para quem passa por uma situação destas, o apoio é sempre fundamenta­l. Saber que os meus antigos companheir­os me apoiavam e estavam do meu lado naquela fase difícil significou muito e ajudou-me bastante. Na altura quis resguardar-me um bocado, não quis que se soubesse no momento. Apesar de saber o apoio das pessoas, nunca quis ser visto como o coitadi-

Reencontro com Diego no regresso ao Bonfim

antigo guarda-redes De regresso ao Bonfim, nha reencontro­u Diego do Tengarrint­rou (na clube foto), balneário durante sadino com o qual partilhou a sua passagem o pelo V. Setúbal nas épocas de 2010/11 e 2011/12. Ambos voltaram agora a ser colegas, integrando a equipa técnica que orienta o plantel de sub-23 e que tem como principal figura Chiquinho Conde, treinador principal e glória da equipa setubalens­e na década de 1990, tendo alinhado em 165 jogos e marcado 65 golos. Além do trio que agora regressa a Setúbal, também os treinadore­s João Nicolau e Sérgio Mourato integram a equipa. nho; preferi estar a lutar ao lado da minha família.

Entretanto conseguiu superar a situação. Continua em tratamento­s?

—Neste momento, apenas exames de acompanham­ento. A meio do processo, por volta de novembro, soube que já estava livre da doença e percebi que poderia sair vencedor desta luta. O último tratamento foi no dia 23 de fevereiro. A quimiotera­pia acabou por não ser tão dura como pensava, mas a radioterap­ia foi uma das coisas mais difíceis pelas quais já passei. Fiquei mais de dez dias sem comer, emagreci dez quilos e foi a fase mais difícil de todo o percurso.

Qual o sentimento de

vencer esta doença?

—Esta é uma luta da qual estou a sair vencedor, embora nada garanta que não possa voltar a sofrer algo do género no futuro. Sempre quis chegar ao fim e poder dizer que ganhei. A sensação é de que me foi retirado um peso das costas, porque foram tempos muito difíceis para mim e para a minha família, que esteve sempre do meu lado.

O que é preciso fazer para vencer uma doença tão complicada?

—A verdade é que algo do género pode calhar a todos; o meu caso foi mais mediático, mas a luta é igual para todos. Acho que o mais importante é manter o pensamento positivo, porque não há muito mais a fazer, e ter muita fé, claro.

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