“Foi um resultadão vencer o Dínamo de Kiev”
Ao terceiro jogo no Karpaty, o técnico estreou-se a ganhar e logo na casa de um dos gigantes da Ucrânia. Um triunfo histórico e heróico
O português, de 53 anos, conseguiu, mesmo com a equipa em inferioridade numérica, quebrar um jejum de 20 anos. Satisfeito com a resposta dos jogadores, não desdenha lutar por um lugar europeu
José Morais é um globetrotter do futebol. Já trabalhou em 12 países e o Karpaty, da Ucrânia, é o mais recente desafio do antigo adjunto de José Mourinho. Foram precisos três jogos, mas seria difícil pedir melhor sítio para começar a vencer do que o campo do poderoso Dínamo de Kiev? —É uma boa sensação, tratase de um adversário grande, com condições, dimensão e qualidade de atletas diferentes da nossa, acaba por ser um resultadão por isso mesmo, pelo valor do nosso adversário e pelo facto de o Karpaty não ganhar ali há 20 anos. Qual foi o segredo para ter sucesso ante este rival? —Foram coisas simples. A continuidade do trabalho que temos estado a desenvolver, nomeadamente a melhoria do nosso jogo defensivo e um maior equilíbrio na transição dos momentos defensivos para os ofensivos. Alguns elementos fundamentais têm vindo a ser bem assimilados, sobretudo a organização defensiva na fase em que não temos a bola e o saber sair com critério para o ataque. Com um adversário como o Dínamo de Kiev, o nosso jogo também tinha de passar por tentar ter bola. A consequência desse trabalho acabou por resultar num jogo bem conseguido. Isso viu-se na capacidade de resistir mesmo em inferioridade numérica? —Sim, os jogadores mostraram-se concentrados, focados. Ficámos com menos um jogador quando já vencíamos por 2-0. Sentimos que em termos de arbitragem o nosso adversário beneficiou um pouco do seu peso e de jogar em casa. Mas, apesar da expulsão aos 56’, conseguimos manter a tranquilidade, não só pela vantagem, mas também pela forma como estávamos a ser capazes de tapar os caminhos para a nossa baliza. Esse foi o segredo, o foco, o equilíbrio. Quando os jogadores acreditam, tudo é possível. Chegou com a época já a decorrer. Quais são as grandes dificuldades e diferenças comparando com um projeto que inicia ainda na pré-temporada? —Nunca sendo fácil, é muito mais difícil quando a época já está a decorrer. Primeiro porque não fazes o plantel que foi escolhido por alguém que já saiu. E os jogadores já assimilaram outras ideias. Segundo, a competição está em andamento e não tens possibilidade de testar coisas. Tudo o que se faz é em jogos a sério, com a pressão dos resultados. E essa pressão retira muitas vezes a capacidade de os jogadores assimilarem as coisas de um modo mais natural. O que tem influêncianorendimento.Por isso, é mais fácil ter sucesso
“Tem corrido bem. Os jogadores valorizam a experiência que eu tenho e o meu currículo”
quando se pega numa equipa desde o início, com tempo de preparação para construíres a tua filosofia de jogo. Jogadores estão a assimilar bem as suas ideias? —Tem corrido bem. São jogadores que valorizam a experiência que eu tenho e o meu currículo. O facto de ter estado nos clubes onde estive, de ter trabalhado com José Mourinho, que é considerado um dos melhores treinadores do mundo. Isso é um garante de qualidade para os jogadores e eles têm essa humildade de querer absorver o que tenho para transmitir e a crença no que desejamos implementar. Até onde pode chegar o Karpaty na liga? —É um clube com jogadores jovens, um clube importante na Ucrânia, o mais representativo de Lviv. Necessita continuar a crescer e pretende fazê-lo. Este é um ano de transi-
ção, o campeonato do próximo ano vai ter 16 equipas e esta é a última época com 12, em que os seis primeiros da primeira fase disputam o título e os seis últimos não vão ter de jogar pela manutenção, porque não haverá despromovidos. É, portanto, um bom ano para criar bases para um futuro diferente. A ideia é essa, não descurando a possibilidade de, em função do que fizermos até dezembro, reforçarmos a equipa em janeiro, se tivermos possibilidade de ficar nos seis primeiros. Isto porque, depois, poderíamos lutar por um lugar de acesso à Liga Europa.