UM MODO DE VIDA É quanto está em causa
A revelação da identidade do hacker do Benfica não é bem uma revelação. Há pelo menos dois anos e meio que Rui Pinto andava pelas edições online de toda a Europa (fotografia incluída) na qualidade de artífice do chamado caso Football Leaks. O que só acrescenta motivos de preocupação à história: então, um suspeito num caso de tão alto perfil pôde continuar a exercer a pirataria? A impotência das autoridades é tal que só encontra paralelo na cumplicidade dos fornecedores de software. Há mais de 20 anos que andamos a criar terreno fértil para o crime, porque, em regra, é a mesma empresa que nos vende uma solução a vender-nos com esta a doença que nos forçará, em breve, a comprar-lhe a cura também. E, a cada brecha somada, aumenta exponencialmente o edifício da insegurança Ninguém está a salvo. Em lado nenhum. Seja quem for. Entretanto, hoje é desmascarado um dirigente desportivo que comprou um funcionário público, amanhã um autarca que fugiu ao fisco, depois de amanhã uma contabilista que dormiu com o diretor da Segurança Social, daqui a quatro dias um bombeiro que é gay – e assim por diante, até que já não reste nem a memória das denúncias relevantes (como esta) perante uma tal torrente de escândalos de natureza privada. Para alguns hackers, nem sequer fará grande diferença, porque a pirataria se manterá primeiramente lúdica. E para outros será até melhor, pois o sound bite aumentará e, com este, a sua glória. É o mundo que nos espera ao virar da esquina: aquele em que contarão menos os esforços das autoridades do que o desenvolvimento de algum género de código de ética por parte dos piratas informáticos. Se calhar ele até já aí está, caso contrário, por esta altura, nem havia mundo.