O Jogo

A irracional­idade eo aplauso ao CD

- Miguel Pedro

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O adepto é um arquétipo estranho. Falo dos adeptos fervorosos, para quem o clube está acima de tudo e para quem os seus dirigentes (os presidente­s dos clubes) são uma espécie de santo imaculado, portador só de virtudes e de nenhum pecado. Para estes adeptos, a culpa é sempre dos outros ou do sistema. E o sistema conspira sempre contra o seu clube e nunca contra os outros clubes. Quando a Benfica SAD foi recentemen­te acusada pelo Ministério Público (MP)no processo E-Toupeira, todos os adeptos benfiquist­as com quem falei garantiram-me a sua inocência. E dizem que é o sistema a funcionar e que os outros clubes (para um benfiquist­a, falar dos outros é falar de Porto e Sporting) é que são associaçõe­s de malfeitore­s e que têm tudo controlado, por isso o sistema não os ataca. Para portistas e sportingui­stas, a acusação do MP significa a certeza da culpa. E o mais espantoso é que, para este tipo de adepto, nem é preciso conhecer o processo para expressar tais veementes e certas conclusões sobre a culpa ou a inocência. Lembram-se, por certo, de Bruno de Carvalho ser unanimemen­te defendido por todo o universo de adeptos sportingui­stas (antes de se ter virado para dentro e começar a devorarse a si próprio). Para estes sportingui­stas, tudo o que se dizia dele eram falsidades e calúnias, resultado da propaganda dos outros clubes malfeitore­s e Bruno tinha, para eles, as virtudes cardeais São Tomás de Aquino. Talvez por isso os sportingui­stas tenham escolhido, nas recentes eleições, o candidato com o perfil mais parecido com o deposto presidente. Inexiste racionalid­ade nas análises do adepto, ao ponto do seu discurso se aproximar do argumento religioso: não se trata de razão, de convencer com argumentos racionais (dedução ou indução), mas sim de fé. Por isso, muitos adeptos, prenhes de fé clubista, desligam os seus filtros sociais e morais e têm comportame­ntos que roçam a violência gratuita. E vemos isso muitos vezes nos nossos estádios. Neste sentido, só posso acompanhar a postura que o Conselho de Disciplina parece querer fazer vingar para esta época de ser mais duro no que respeita à condenação do comportame­nto incorreto e violento dos adeptos. Sei que muitos dos que me leem irão estranhar esta minha adesão ao combate que o CD quer fazer ao comportame­nto violento dos adeptos, até porque um dos castigados, nesta semana, foi o meu SC Braga. Mas eu não me refiro aos processos em si, porque não os conheço. Até pode darse o caso de as decisões do CD não terem o adequado respaldo jurídico e, por exemplo, no caso do Braga, a decisão ser injusta e poder vir a ser revogada. Não é de processos que falo, mas sim de postura e de estratégia: se for essa a postura do CD daqui para a frente e se for aplicada “doa a quem doer”, terá sempre o meu apoio.

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Depois da desilusão da época passada, o Braga iniciou a caminhada da Taça da Liga (cuja fase final será também em Braga) com uma sofrida, mas justa, vitória. Começar a sofrer golos parece ser um bom tónico para esta equipa, que fez uma exibição razoável (principalm­ente na segunda parte) e – como se espera dos guerreiros – muito esforçada e com grande entrega. Valeu, também, pelo regresso de Marafona.

Se esta estratégia do CD for aplicada “doa a quem doer”, terá sempre o meu apoio

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