Qual a intenção da UEFA com a nova competição?
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Na época de 1998/99, a UEFA pôs termo a uma competição histórica, que era muito querida dos clubes, por representar uma oportunidade para que as equipas com menos posses e menos poderes nos seus países chegassem a uma competição europeia. Eram os clubes vencedores das taças nos respetivos países que eram depois chamados a esta competição, e houve muitos casos de clubes de segundas divisões a disputarem o troféu, até portugueses. A extinção deste troféu não foi pacífica na altura, os clubes passaram a integrar a Taça UEFA, entretanto rebatizada de Liga Europa, que é o modelo que prevalece até hoje. Sinceramente, não sei se foi uma boa ideia acabar com a Taça das Taças, que até diz muito a Portugal, pois o Sporting conquistou o troféu, na época de 1963/64, com o célebre canto direto de Morais, ou o cantinho do Morais como ficou conhecido esse momento histórico para os leões, numa época de ouro para o Sporting, que impôs uma pesada derrota ao Manchester United (5-0), o resultado mais pesado que a equipa inglesa sofreu em competições europeias.
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Vem este tema a propósito da intenção da UEFA em criar, já em 2021, uma nova competição, desconhecendo-se ainda em que moldes. Nem percebo muito bem qual a intenção e gostava de ter acesso aos estudos que o organismo certamente fez para pensar nessa nova prova. Porque desconfio imenso do efeito que vai provocar no futebol europeu. Porque, antes de tudo, impõe-se uma questão: será que vai haver espaço no calendário já tão carregado para uma nova prova? Tenho a certeza de que por detrás desta ideia está uma intenção comercial. A UEFA faz lembrar alguém que tem muita roupa mas que quer comprar sempre mais. É típico do ser humano, quanto mais tem mais quer, porque o futebol é cada vez mais um negócio. A UEFA acabou de criar a Liga das Nações, tem a Champions e a Liga Europa, vai criar agora uma nova competição que, em princípio, irá contemplar os clubes que não são apurados para a Liga Europa ou para a Champions, ao estilo do que acontecia quando existia a Taça das Taças que, em termos de importância era a segunda competição de clubes, a Taça UEFA era a mais modesta.
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Ao criar mais uma competição de clubes, a UEFA sabe que vai aumentar a carga de trabalho para os jogadores e para os clubes, que são quem no fundo faz girar o negócio do futebol, embora não sejam quem mais ganha. As competições europeias são um pouco lucrativas para os clubes, algo lucrativas para os jogadores, mas muito lucrativas para a UEFA e para os parceiros comerciais. É o futebol negócio em movimento, mas vamos ver se não será o próprio negócio futebol a esgotar o futebol em si porque tenho dúvidas de que a intenção da UEFA seja proteger o futebol e os jogadores ou se essa alguma vez será a preocupação do organismo. A UEFA é um reino dentro do futebol, que impõe regras a seu bel prazer e que está a criar condições para que os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres; onde o futebol é pouco desenvolvido, continuará a ser, onde já é muito desenvolvido será ainda mais, caminhando-se, não tenham dúvidas, para algo que já foi falado há algum tempo, a criação de uma liga europeia a par das ligas internas de cada país.