GERINGONÇA SALVA PELOS EXTREMOS DESCOBERTA
Equipa nascida de compromisso comum para sair da crise continua à procura de identidade e rumo próprios. Voltou a vencer, mas ainda não convence
Foi sem convicção e ainda à boleia de rasgos individuais que o coletivo às ordens de José Peseiro traduziu uma superioridade notória ante adversário que quase conseguia o seu objetivo: adormecer o jogo
Foi ainda sem princípios de jogo definidos, sem convicções fortes que norteiem toda a manobra coletiva e demonstrem uma identidade própria, que o Sporting arrancou ontem a sua campanha na Liga Europa. Mal comparado, a equipa do Sporting é uma espécie de solução engendrada pelo país no momento de dar os primeiros passos após o sufoco da Troika: num compromisso comum para deixar a crise para trás, foi encontrada uma plataforma de entendimentoaindasemgrandesubstância, nem alicerces sólidos para uma construção que inspire confiança. Até ver. Pelo menos para já. Isto porque não se descortina um fio condutor, uma matriz – ténue, que fosse –, ao longo de um e outro jogo. Ontem, uma vez mais, foi no modelo geringonça, na medida em que todos sabem o que querem, a forma de lá chegar é que pode ser diferente, que o Sporting voltou a abordar o encontro com o Qarabag. Essa forma algo colegial de interpretar uma filosofia de jogo tão inócua quanto... inexistente (até ver) configura mais riscos do que benefícios e o resultado acaba por disfarçar uma inoperância que só não foi mais gritante devido às individualidades.
Sem qualquer juízo de valor sobre as soluções encontradas pelo país para deixar para trás um período negro, nem tãopouco sobre a fórmula descortinada em Alvalade para o clube se reerguer dos escombros em que se encontrou este verão, resta constatar que não existe ainda entre os leões um denominador comum que, mais que os distinga, os una. Sendo o todo bem mais do que a soma das partes, chega a ser confrangedor verificar que a equipa continua a ser uma série de individualidades. E foi assim que, uma vez mais, o Sporting conseguiu levar o resultado a bom porto.
O desejo de mandar desde o início foi esboçado e foi esbarrando na capacidade – uma das poucas do Qarabag – de tapar os caminhos da baliza de Vagner. E quando a equipa não o conseguia, estava lá o guardião brasileiro para contrariar as esporádicas investidas dos leões. Gudelj estreou-se por fim a titular, demonstrou boa leitura, mas acusou uma natural falta de entrosamento com os companheiros; Bruno Fernandes, a espaços, Nani, raramente, mas sobretudo Raphinha iam mostrando os rasgos de que ia vivendo a equipa. O intervalo chegou com o nulo que se impunha, e constatar que Mathieu era o homem que mais perigo criara é ilustrativo do desenrolar dos primeiros 45 minutos.
Foi na primeira jogada com princípio, meio e fim que o Sporting chegou ao golo: Mathieu iniciou a jogada e Bruno Fernandes deu-lhe seguimentocedendoabolaaNani, que descobriu Raphinha ao segundo poste para encostar. O público ia-se impacientando com as demoras nas reposições em jogo de Vagner, depois com as perdidas de Nani, e o Sporting expunha-se despropositadamente a qualquer lance fortuito em que o Qarabag pudesse baralhar as contas ao encontro. Montero, Raphinha e o recém-entrado Jovane decidiram resolver, mas o Sporting continua em crise de identidade, apesar de ir tropeçando de sucesso em sucesso.