O Jogo

GERINGONÇA SALVA PELOS EXTREMOS DESCOBERTA

Equipa nascida de compromiss­o comum para sair da crise continua à procura de identidade e rumo próprios. Voltou a vencer, mas ainda não convence

- Textos MÁRIO DUARTE

Foi sem convicção e ainda à boleia de rasgos individuai­s que o coletivo às ordens de José Peseiro traduziu uma superiorid­ade notória ante adversário que quase conseguia o seu objetivo: adormecer o jogo

Foi ainda sem princípios de jogo definidos, sem convicções fortes que norteiem toda a manobra coletiva e demonstrem uma identidade própria, que o Sporting arrancou ontem a sua campanha na Liga Europa. Mal comparado, a equipa do Sporting é uma espécie de solução engendrada pelo país no momento de dar os primeiros passos após o sufoco da Troika: num compromiss­o comum para deixar a crise para trás, foi encontrada uma plataforma de entendimen­toaindasem­grandesubs­tância, nem alicerces sólidos para uma construção que inspire confiança. Até ver. Pelo menos para já. Isto porque não se descortina um fio condutor, uma matriz – ténue, que fosse –, ao longo de um e outro jogo. Ontem, uma vez mais, foi no modelo geringonça, na medida em que todos sabem o que querem, a forma de lá chegar é que pode ser diferente, que o Sporting voltou a abordar o encontro com o Qarabag. Essa forma algo colegial de interpreta­r uma filosofia de jogo tão inócua quanto... inexistent­e (até ver) configura mais riscos do que benefícios e o resultado acaba por disfarçar uma inoperânci­a que só não foi mais gritante devido às individual­idades.

Sem qualquer juízo de valor sobre as soluções encontrada­s pelo país para deixar para trás um período negro, nem tãopouco sobre a fórmula descortina­da em Alvalade para o clube se reerguer dos escombros em que se encontrou este verão, resta constatar que não existe ainda entre os leões um denominado­r comum que, mais que os distinga, os una. Sendo o todo bem mais do que a soma das partes, chega a ser confranged­or verificar que a equipa continua a ser uma série de individual­idades. E foi assim que, uma vez mais, o Sporting conseguiu levar o resultado a bom porto.

O desejo de mandar desde o início foi esboçado e foi esbarrando na capacidade – uma das poucas do Qarabag – de tapar os caminhos da baliza de Vagner. E quando a equipa não o conseguia, estava lá o guardião brasileiro para contrariar as esporádica­s investidas dos leões. Gudelj estreou-se por fim a titular, demonstrou boa leitura, mas acusou uma natural falta de entrosamen­to com os companheir­os; Bruno Fernandes, a espaços, Nani, raramente, mas sobretudo Raphinha iam mostrando os rasgos de que ia vivendo a equipa. O intervalo chegou com o nulo que se impunha, e constatar que Mathieu era o homem que mais perigo criara é ilustrativ­o do desenrolar dos primeiros 45 minutos.

Foi na primeira jogada com princípio, meio e fim que o Sporting chegou ao golo: Mathieu iniciou a jogada e Bruno Fernandes deu-lhe seguimento­cedendoabo­laaNani, que descobriu Raphinha ao segundo poste para encostar. O público ia-se impacienta­ndo com as demoras nas reposições em jogo de Vagner, depois com as perdidas de Nani, e o Sporting expunha-se desproposi­tadamente a qualquer lance fortuito em que o Qarabag pudesse baralhar as contas ao encontro. Montero, Raphinha e o recém-entrado Jovane decidiram resolver, mas o Sporting continua em crise de identidade, apesar de ir tropeçando de sucesso em sucesso.

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Nani é substituíd­o por Jovane, aos 87’
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