O SUPREMO ATLETA
E vem do jogo mais difícil
Quem não sabe de golfe não percebe a dimensão de Tiger Woods. Woods dominou o golfe como Ali não dominou o boxe, Senna a fórmula 1 ou Jordan o basquetebol. Sendo que o golfe é a menos dominável de todas essas modalidades. No golfe, todos os melhores dominaram apenas a espaços. Menos Tiger, que o dominou consolidadamente durante uma década, com resultados médios que ninguém tinha sequer julgado possível e num tempo em que os fairways deixaram de ser exclusivo das classes privilegiadas dos países anglófonos e passaram a povoar-se de gente de todo o mundo, raça e condição. Que se trate do jogo mais rico, é apenas um complemento. Apesar disso, Woods faturou como nenhum outro desportista até hoje. Entre os seis mais bem pagos de sempre, quatro são golfistas, e Tiger não só é o golfista com mais semanas na liderança do ranking mundial, mas tem o dobro das semanas do segundo classificado e sete vezes as do terceiro. É o melhor de sempre, e numa das modalidades mais antigas. No golfe, o corpo central de regras remonta aos tempos do Terramoto de Lisboa. São 250 anos de tradição – até que um rapaz juntou as condições atléticas de um negro, a ética de trabalho de um asiático, a afirmatividade de um holandês, um desejo que só ele alguma vez teve e a sorte de um pequeno messias para produzir nada menos do que o sublime. É disso que falamos quando falamos de Tiger Woods: de um dos maiores atletas de sempre, se não o maior. E que agora regressa às grandes vitórias, aos 42 anos, depois de dez anos de lesões, oito anos de convulsões pessoais, quatro operações, cinco anos sem ganhar e quase 1200 lugares perdidos no ranking mundial. De repente, a quimera dos 19 majors parece menos impossível. Por mim, que me perdoem os três grandes, a gala da FIFA e a greve dos taxistas: é o assunto da semana.