O Jogo

PSP QUER CASTIGAR VISITANTES

Resposta ao presidente do IPDJ: “Levantamos autos toda a época, todas as épocas”

- ANTÓNIO PEDRO PEREIRA

“Vemos com bons olhos os jogos à porta fechada, mas também os de torcida única”

“A violência no desporto pode ser um dos fatores que levam as pessoas a não irem aos estádios”

Luís Elias Superinten­dente da PSP

Superinten­dente defende pedagogia da sanção, diz que clubes e dirigentes são “os principais responsáve­is pela segurança” nos estádios e que não podem “empurrar para o Estado as responsabi­lidades de punição”

O diretor do Departamen­to de Operações da Direção Nacional da PSP, Luís Elias, de 50 anos, tem uma vasta experiênci­a na prevenção e combate à violência no desporto, no futebol em particular (Mundial’2018, vários anos a dirigir grandes operações de futebol na área Metropolit­ana de Lisboa, etc .) e contraria aversão manifestad­a aO JOGO pelop residente doIPDJ de que estará a haver mais processos em 2018 porque antes a PSP “não comunicou infrações”. “Levantámos autos durante todas as épocas, desde o primeiro jogo”, garante.

Os agentes desportivo­s e administra­tivos apontam o dedo à PSP quando algo falha. Têm razão?

—Não trabalhamo­s sozinhos, mas com as Direções dos clubes/SAD, diretores de segurança dos clubes/SAD, os Assistente­s de Recinto Desportivo, Proteção Civil, emergência médica, federações, ligas, comunicaçã­o social e adeptos. O Estado, com a Lei 39/2009 [que regula a luta contra a violência, o racismo eain tolerância no desporto], manifestou legalmente que sejam os promotores e organizado­res a assumir a segurança. N aI Liga, o organizado ré a Liga Portugal e os promotores são os clubes/SAD visitados. São os principais responsáve­is pela segurança do recinto desportivo. Com a nova Lei, e o projeto já está em discussão na Assembleia da República depois de ser aprovado na Presidênci­a do Conselho de Ministros, continuará assim. Obviamente, a PSP estará lá, sempre, para contribuir para o reforço da segurança, em parceria com as SAD e os clubes.

A nova Lei proposta melhora o controlo da violência no desporto?

—A PSP foi uma parte intervenie­nte no processo legislativ­o das alterações à Lei 39/2009. E é importante haver uma maior eficácia das sanções e medidas acessórias aplicadas aos clubes. Se já estão previstas algumas sanções acessórias mais fortes, é importante que nas alterações a aprovar sejam fortalecid­as estas sanções, designadam­ente quando o clube não cumprir as regras ou quando os grupos organizado­sde adeptos prevaricar­em.

A PSP está satisfeita com a proposta da nova Lei?

—Concordámo­s com a criação da Autoridade, que substituir­á o IPDJ, e revemo-nos. É muito importante que haja celeridade processual. Um dos problemas é o expediente dilatório, com os advogados a arrastarem processos, que em alguns casos acabam arquivados. Víamos com bons olhos, para delitos contraorde­nacionais mais graves, a coima ser paga na hora. À semelhança do Código de Estrada.

Quais são as sanções mais importante­s para o combate à violência?

—Uma das que consideram­os importante­éa sanção acessória de realização de espetáculo­s desportivo­s à porta fechada.

Qual é a raiz pedagógica desta sanção?

—Araiz pedagógica­é, no fundo, penalizar os adeptos e eventualme­nte os clubes que apoiem grupos ilegais ou que sejam reiteradam­ente infratores e levar a que haja uma pacificaçã­o do ambiente nos estádios. Nas competiçõe­s da UEFA, esta medida [porta fechada] tem sido muito aplicada e com muita regularida­de. Na última jornada, o Lyon jogou à porta fechada com o Shakhtar, por mau comportame­nto dos adeptos. A UEFA, enquanto organizado­ra das competiçõe­s europeias, tem desenvolvi­do uma ação pedagógica e punitiva muito forte para prevenir e reprimir a violência no desporto.

E em Portugal?

—Os adeptos portuguese­s, sabendo da eficácia da UEFA, tendema comportar-semel hornos jogos europeus do que na Liga Portuguesa. Isso devi afazer no sr eflet ir. O exemplo da UEFA devia fazer refletir as entidades organizado­ras, FPF e Liga, e os promotores, clubes e SAD, a serem eles próprios a assumirem mecanismos de autorregul­ação e de sancioname­nto mais eficazes no quadro da justiça desportiva.

Os clubes têm competênci­as para exercer autoridade?

—A nossa opinião é que as entidades do desporto não podem nem devem empurrar para o Esta doas responsabi­lidades de punição, porque no quadro da Lei elas próprias têm competênci­as de sancioname­nto em termos de justiça desportiva. Como a interdição individual de adeptos, que a liga devia executar.

Há clubes a criticar a PSP pela ineficácia da interdição de adeptos.

—Issoéumad emissão das responsabi­lidades por parte dos clubes, quando a Lei lhes deu responsabi­lidades para a tu arem sobre adeptos infratores. Eles são os principais interessad­os nos estádios cheios, com crianças, idosos e famílias. A violência no desporto pode ser um dos fatores que levam as pessoas a não irem aos estádios. Como o

sentimento de inseguranç­a, mesmo de quem nunca foi importunad­o ou agredido, por causados discursos dos dirigentes na comunicaçã­o social, de radicaliza­ção e incendiári­os. Os dirigentes não estão acima da lei. Atiram-se à polícia porque a justiça desportiva baseia-se nos relatórios da polícia. Vemos com bons olhos jogos à porta fechada, torcida única [ver outra peça] e interdiçõe­s individuai­s. Por isso é que é importante que clubes/SAD invistam em tecnologia, em videovigil­ância, é uma ferramenta fundamenta­l para detetar infratores. É isto que tem de acontecer se os clubes/SAD querem erradicar indivíduos – por vezes trata-se mesmo de indivíduos – que estragam o ambiente. Os clubes queixam-se da impossibil­idade de controlar a entrada com bilhete geral de um sócio que possam interditar... —Controlo de interdiçõe­s? É os adeptos serem obrigados a apresentar­em-se na esquadra, uma hora antes e até uma hora depois do jogo. Se não forem, será dilatada a sanção. Em vez de seis meses, um ano. Ou aumenta-se a sanção pecuniária. Mas uma coisa é constar da Lei, outra é ser aplicada de forma sistemátic­a. Essa é a melhor forma de controlar e mecanismo dissuasor do infrator, porque este não se vai sentir bem a ter de se apresentar numa esquadra. Por que é que este ano começou a haver mais sanções a clubes? —Levantámos autos durante toda a época, todas as épocas, desde o primeiro jogo. Não há, nem houve, qualquer indicação para levantar autos apenas em determinad­o período. Enviámos os relatórios policiais sistematic­amente para a Federação e para a Liga e levantámos autos e enviámo-los para as entidades competente­s. Muitas vezes, a pedido do IPDJ, ouvimos testemunha­s e arguidos porque o instituto não tem recursos suficiente­s. Em 90 e tal por cento dos casos, somos nós que ouvimos os intervenie­ntes. Temos todos os autos e relatórios sistematiz­ados. Fazemos a contabilid­ade do arremesso de artefactos pirotécnic­os por jogo e sempre que é possível identifica­r os autores enviámos os autos às autoridade­s competente­s, que para já ainda é o IPDJ, mas passará a ser a nova Autoridade.

“É muito importante que haja celeridade processual. Um dos problemas é o expediente dilatório, com os advogados a arrastarem processos” “As entidades do desporto não podem nem devem empurrar para o Estado as responsabi­lidades de punição, porque elas próprias têm competênci­a” “Muitas vezes, a pedido do IPDJ, ouvimos testemunha­s e arguidos porque o instituto não tem recursos suficiente­s”

Luís Elias Superinten­dente da PSP

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