“Fui humilhado e enxovalhado com mentiras”
Ex-presidente não poupa Bruno de Carvalho, que acusa de ter denegrido o seu nome com falsidades para justificar expulsão
“Eu não fui expulso por nenhuma AG. Foi decisão do Conselho Fiscal e Disciplinar” “Bruno de Carvalho alterou por completo os resultados da auditoria” “Maltratou a história, os valores e os princípios do Sporting”
Antecessor do presidente destituído passa em revista todo o processo que redundou na sua expulsão e discrimina a “cosmética” a que o seu sucessor recorreu para apresentar resultados positivos
O engenheiro de 66 anos apresenta hoje o título biográfico “Olhos nos olhos”. A obra da autoria de António Sousa Duarte aborda as vertentes pessoais, profissionais e sociais de Luiz Godinho Lopes que, a O JOGO, fala como exdirigente do Sporting.
Vamos começar pelo início: o livro. Conta agora a história da sua vida, muito para além do Sporting. Porquê agora?
—Porque fui estimulado a isso. O livro está pronto há bastante tempo, não quis que saísse nada num momento mais conturbado, portanto achei que até às eleições não faria sentido. Logo depois, também não, porque é o momento de reflexão. Eu fiquei conhecido devido à minha passagem pelo Sporting, como sendo um homem ligado ao futebol. Tenho 66 anos, seis dos quais no Sporting. Felizmente, tenho vida para além do Sporting, sem qualquer sentido depreciativo para o clube, gostei de lá estar. Fiz muita coisa, não só na área de construção, imobiliária, turismo, como também na área da solidariedade social, etc. Achei que seria interessante mostrar a diversidade da minha ação.
É legítimo relacionar o lançamento deste livro com o afastamento de Bruno de Carvalho? Ou, dito de outra forma: consideraria a possibilidade de expor-se a eventuais ataques do presidente entretanto destituído?
—Não, o livro estava pronto antes de o campeonato ter acabado. Depois, seguiu-se um período de transição, as eleições, não faria sentido. Se Bruno de Carvalho fosse presidente, o livro seria lançado agora, da mesma maneira. Expor-me? Tal como quando fui expulso. Fui maltratado, humilhado, enxovalhado no meio dos sportinguistas. E por mentiras que foram ditas. Tenho tido o cuidado de não prejudicar o Sporting. Mas em algum momento eu tinha de dizer aquilo que se passou.
Como se procedeu à sua expulsão?
—Eu não fui expulso por nenhuma AG. Hoje, não sou sócio do Sporting nem pago quotas. O Conselho Fiscal e Disciplinar resolveu fazer umatodos mandatos entre 1995 e 2013. A auditora nunca entrou em contacto comigo a pedir quaisquer esclarecimentos. Mandam-me depois um relatório para que possa responder, mas sem a auditoria... Naturalmente, chamoin competente a essa pessoa, que ficou enxofrada e pede a minha expulsão. Éo Conselho Fiscal e Disciplinar que propõe a minha expulsão e dia 26 de junho [de 2015], mandou-me um email a dizer-me que eu fui expulso. Dia 28, dois dias depois, há uma AG em que é apresentado o resultado da auditoria a Soares Franco, a seguir a auditoria imobiliária e depois vem o presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar a anunciar a minha expulsão. Não houve votação nenhuma, porque não fazia parte da ordem de trabalhos. Agora, não tinha que pedir nenhuma AG para ser readmitido, isso é ridículo. Fui expulso num processo que considero irregular. Se o atual Conselho Fiscal e Disciplinar me quiser ouvir e propor a minha readmissão, queéo que acho correto, muito bem. Ma sé uma decisão que cabe aos atuais órgãos sociais.
Não houve então nenhuma votação, foi comunicada a decisão, é isso?
—O que se passou foi o seguinte: Bruno de Carvalho apresentou em powerpoint o resultado da auditoria a Soares Franco e depois o da área imobiliária. Alterou por completo os resultados da auditoria e visa-me várias vezes. Diz que eu apresentei em 1999 um preço de Alcochete que, afinal de contas, custou cinco vezes mais. O que a auditoria diz é que em 1999, eu apresentei uma ideia de quanto custaria uma Academia, noutro local, em Torres Vedras, e com um
quarto do tamanho que acabaria por ter. Fica a ideia que enganei o Sporting e depois Bacelar Gouveia vem anunciar a minha expulsão e as pessoas aplaudem. O que pretendo aqui é explicar aos sócios que tudo o que lhes foi contado é uma mentira.
Bruno de Carvalho, esse sim, devia ser expulso do Sporting?
—Isso é uma decisão que cabe aos órgãos sociais competentes.
Mas foi uma figura nefasta para o clube e para o
futebol português?
—Eu considero que sim. Podia ter sido um bom presidente, pelas contratações que fez, nomeadamente dos três bons treinadores que foi buscar, mas viu sempre pelo lado errado. Ele agarrou num clube que já existia, tinha 107 anos, não foi ele que o criou. Se havia três milhões de adeptos, já existiam, não foi ele que os arranjou. Houve 41 presidentes antes dele e ele quis deitar isso tudo fora. Maltratou a história, os princípios e os valores do clube, fiquei triste por isso.