Clubes ameaçam parar campeonato
Lei de Violência no Desporto, seguros e receitas das apostas são as causas
“Todas as formas de protesto são de considerar […] existe ainda espaço suficiente para encontrarmos boas soluções” “Queremos que o Governo ouça o futebol profissional, cujas contribuições são, hoje, quase 0,3 por cento do PIB”
Pedro Proença
Presidente da Liga
Clubes estão impacientes com legislação de combate à violência no desporto, distribuição das receitas das apostas desportivas e seguro de acidentes de trabalho. Proença acredita no diálogo
Os clubes ameaçam parar o futebol se o Governo não se despachar a dar resposta positiva nas reivindicações relativas à legislação sobre violência no desporto e seguro de acidentes no trabalho, e na distribuição de receitas das apostas desportivas. A mensagem forte da quarta Cimeira de Presidentes, em Coimbra, foi transmitida de forma caricata. Os dirigentes saíam a conta-gotas da sala do Convento de São Francisco, quando um grupo se acercou da porta que dava para a zona mista e, com Luís Filipe Vieira, António Salvador e Rui Pedro Soares, entre outros, a observarem, com ar divertido, Carlos Pereira avançou ligeiro para o microfone a resumir a ordem de trabalhos da reunião e a transmitir a decisão coletiva de “pensar alto”, numa greve do futebol: “Se estas nossas pretensões não forem ouvidas, pensamos seriamente em parar os campeonatos.” Não só “o futebol profissional”, mas também “parar os campeonatos de formação”. Questionado sobre o que reclamam os clubes, Carlos Pereira teve dificuldade em precisar. Quando lhe perguntaram se isto é um cartão amarelo ou vermelho ao Governo, estranhou a metáfora. “O Governo que interprete como quiser. Queremos é celeridade nos processos, que sejam resolvidos e não adiados”, despediu-se, e abandonou precipitadamente a zona mista. Antes, ouvira-se Salvador atirar: “É vermelho!”; logo desandou, a rir, com um bando divertido atrás dele e a ameaça de parar o futebol no ar. Só depois surgiu Pedro Proença, presidente da Liga, a recordar com clareza o que está em causa e, perante a ameaça, a saudar a “agregação”, a “capacidade de os clubes se envolverem em matérias estruturais”, tão raro é vê-los numa frente unida. Estão juntos a bater o pé à “proposta que o Governo fez” para alteração da lei de combate à violência do desporto. “Fica muito aquém das suas pretensões”. “Relativamente aos segurosdeacidentesdetrabalho, só na Bélgica temos um quadro igual a este, que urge alterar”, prosseguiu. Quanto às apostas desportivas, os clubes reclamam o “aclaramento” da portaria que consagra a “chave de repartição” das receitas das apostas desportivas. Proença acredita que João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto, está “mais do que sensibilizado” para este último tópico”. “O que os clubes querem são prazos objetivos por parte do Governo”, resu- miu. Se a pressa os fará parar o futebol, isso ainda é cedo para dizer. “Todas as formas de protesto são de considerar”, mas, o presidente da Liga está seguro de que “existe ainda um espaço suficiente para encontrar boas soluções”.