O Jogo

Dono do PAOK acusado de espionagem pró-russa

Savvidis, dizem os americanos, terá financiado a oposição ao referendo e possível adesão à NATO da república da antiga Jugoslávia

- JOÃO ARAÚJO

Nascido na Rússia e antigo membro da Duma, a câmara baixa do parlamento russo, pelo partido de Putin, Ivan Savvidis terá pago a opositores da adesão da Macedónia à NATO, escreve o “The New York Times”

Ivan Savvidis tornou-se um nome conhecido do grande público a 11 de março passado – bastava estar atento aos jornais ou televisões para se ficar a saber que o proprietár­io do PAOK tinha entrado em campo com um revólver à cintura quando resolveu protestar com o árbitro que acabara de anular um golo que daria à sua equipa a vitória sobre o AEK de Atenas, aos 90 minutos de jogo. E que deixaria a equipa de Salónica bem encaminhad­a para conquistar o título. O jogo foi suspenso e o PAOK punido com uma derrota por 3-0 e três jogos à porta fechada que, eventualme­nte, ditariam a perda da liga para o AEK. Savvidis foi multado em cem mil euros e banido dos estádios por três anos.

Agora, o nome do milionário nascido ex-república soviética da Geórgia há 59 anos volta às páginas dos jornais e por motivos bem diferentes da paixão futebolíst­ica. O diário norte-americano “The New York Times” publicou um artigo em que o acusa de ser “desde há anos o homem do Kremlin na Grécia”. Que é como quem diz uma garantia de que os interesses de Putin sãodefendi­dosnaquela­região onde a Europa Ocidental dá lugar aos Balcãs e tem vista privilegia­da sobre o Médio Oriente. Os norte-americanos terão, segundo aquele jornal, intercetad­o comunicaçõ­es, em junho, que provam a intervençã­o de Savvidis no sentido de impedir o êxito do referendo sobre a mudança de nome da Macedónia, condição fundamenta­l para o país da antiga Jugoslávia poder pedir a adesão à NATO – algo que a Rússia não quer. E que sempre teve a oposição da Grécia, que reivindica aquele nome como exclusivo da província do norte do país cuja capital é Salónica, precisamen­te onde está sediado o PAOK.

Membro da Duma

Membro eleito da Duma, a câmara baixa do parlamento russo, entre 2003 e 2011, pelo partido Rússia Unida, de Vladimir Putin, Savvidis fez fortuna com a privatizaç­ão da empresa estatal de tabaco russa, de que foi proprietár­io até março deste ano, quando vendeu a empresa por cerca de 1400 milhões de euros. Foi presidente do Rostov até 2005 e em 2012 comprou o PAOK, assumindo os dez milhões de euros do passivo do clube. Passou a ser dono de hotéis e da maioria da tabaqueira grega (cuja posição vendeu juntamente com a russa), bem como de canais televisivo­s e grupos editoriais.

De acordo com os serviços de inteligênc­ia dos Estados Unidos, que dizem ter emails, mensagens de texto e gravações de telefonema­s do milio- nário russo-grego, este terá pago cerca de 300 mil euros a opositores da adesão da Macedónia à NATO – de políticos a recém-criadas organizaçõ­es radicais e até aos hooligans do Vardar Skopje, protagonis­tas de violentos protestos frente ao parlamento macedónio contra o referendo à alteração do nome do país.

O referendo na Macedónia, efetuado a 26 de setembro, teve 91% de votos a favor da alteração do nome para Macedónia do Norte, embora só tivessem votado 36,5% dos eleitores, algo que serviu para que ambas as partes clamassem vitória.

PAOK só sabe vencer

Savvidis qualificou esta acusação de “totalmente falsa e altamente maldosa”, através de um comunicado. Já o seu PAOK segue imparável: desde que o dono e presidente entrou em campo de pistola à cintura, venceu os sete últimos jogos da última época e começou a atual no mesmo tom. Em 15 jogos oficiais, tem duas derrotas (Chelsea e Benfica, que valeu o afastament­o da Champions), um empate e 13 vitórias, dez das quais em outras tantas jornadas da liga grega, que lidera. É, aliás, uma entre meia dúzia de equipas na Europa que ainda só venceram no respetivo campeonato.

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Ivan Savvidis quando entrou em campo, no PAOK-AEK, de revólver à cintura

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