Portugal lidera o Grupo 3 da Liga das Nações com 6 pontos e está a um passo da final-four
O ataque dos Silvas, Cancelo a andar de mota e grande lucidez construíram uma vitória importante que só peca pela escassez de golos. Tanto conforto incomodou
Juntar à importância dos pontos conquistados uma exibição com momentos de deleite torna o futebol ainda mais bonito. E nem o deslumbramentozinho que animou os polacos deu para sofrer a sério
Após quatro anos ao serviço da Seleção Nacional, cumpridos exatamente ontem, Fernando Santos transmite a ideia de ter acabado, pelo menos por ora!, com o Portugal resultadista que defendia e confiava cegamente em Ronaldo. Pela segunda vez na Liga das Nações, a rapaziada nova funcionou em bloco, ganhou e teve momentos deslumbrantes. Desumanos,até,seatentarmosaomaus tratos que Bernardo Silva, Pizzi e João Cancelo deram à ala esquerda da Polónia. Para o selecionador polaco foi uma sorte o defesa-esquerdo (Jedrzejczyk) ter aceitado voltar ao campo.
Jogando apoiado, trocando a bola e permutando posições, o carrossel da equipa portuguesa deixou os polacos completamente à nora. E nem o facto de terem marcado primeiro alterou a situação.
Santos voltou a apostar num 4x3x3 muito flexível, com um meio-campoquetevemomentos e movimentos quase perfeitos. Rúben Neves surgiu como médio-defensivo e William Carvalho e Pizzi como médios interiores, cabendo ao benfiquistadesempenharuma função entre as posições 8 e 10, enquanto o parceiro do lado recuava um pouco mais. No ataque, carrilado quase sempre pela direita, Bernardo alternava entre idas à linha de fundo e jogo interior. Pizzi compensava na ala ou deixava a avenida aberta à velocidade de Cancelo. Aliás, o lateral mostrou na primeira jogada de perigo (4’) como seria no resto do tempo.
Numa primeira fase de jogo dividido, a Polónia adiantou-se nomarcadorcomacomplacência do árbitro, que num canto permitiu o bloqueio de Lewandowski a Rui Patrício. Mesmo nãosendobasquetebol–aísim, o bloqueio é uma arma –, os polacos ficaram na frente. Nada de mais, porque não se tratou de mérito nem castigo.
A rapaziada de Santos continuou a jogar como se nada tivesse acontecido. O carrossel tanto andava à velocidade natural como acelerava ao ponto de provocar tonturas entre a defesa anfitriã. Por isso o empate surgiu com naturalidade, no seguimento de mais uma jogada onde houve arte, rigor e eficácia.
Portugal já estava por cima quando empatou e tomou conta da partida, com um futebol vistoso onde tudo fazia sentido, como o lance do segundo golo, um oposto do primeiro. Se nesse caso a bola foi de pé para pé, no da reviravolta o passe longínquo de Rúben Neves, tal como a receção de Rafa nas costas da defesa.
Mandava a providência ter cuidado com o arranque dos polacos no segundo tempo, mas Portugal voltou a ter momentos de êxtase. Bernardo fez o terceiro e a equipa continuou a brindar os adeptos com o controlo da bola e do espaço, sem correr riscos mas continuando a meter medo, não deixando o adversário entrar no jogo.
A dada altura, quando o controlo era total, os portugueses cometeram o erro do deslumbramento. A posse de bola deixou de ser objetiva – ter por ter não é boa ideia – e a Polónia cresceu e reduziu com mais um golo ilegal (bola andou fora do campo antes de ser cruzada). Logoaseguir,Portugalrepegou no jogo, voltou a mandar e podia ter feito mais dois ou três golos.