O Jogo

“Presidente do Interclube prendia os jogadores”

Atraído por um milhão de dólares, que nunca chegou a ver, Dyego Sousa passou por apuros em Angola. Ao fim de cinco meses sem jogar, suplicou para voltar a Portugal

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Enquanto aguardava a chegada do certificad­o, o avançado foi protagonis­ta de uma tragicoméd­ia no clube da polícia angolana. Entre outras peripécias, era obrigado a bater continênci­a no balneário

Nem sempre há um pote cheio de ouro no fim do arco íris. Quando lhe acenaram com valores irrecusáve­is em 2011, o Interclube, de Angola, parecia brilhar de forma esfuziante. Tudo não passou de ilusão. Viveu uma aventura insólita em Angola... —Estive lá cinco meses, o treinador do Interclube era o António Caldas. Como nunca chegou o meu certificad­o internacio­nal, não joguei uma únicaparti­da. Tudocorreu­mal. Essa aventura até é motivo de brincadeir­as no balneário do Braga. Gozam comigo, chamam-me de kwanza (moeda angolana). É verdade que lhe prometeram o pagamento imediato de um milhão de dólares e uma remuneraçã­o mensal de cinco mil? —Sim. Em vez disso o que recebi foi um milhão de kwanzas numa mochila de escola. Não chegaria sequer a nove mil euros. Era o clube ligado à polícia e os jogadores tinham de bater continênci­a quando o presidente se apresentav­a. Tinha de ser assim até ele dizer “descansa”. Até prendia os jogadores que se portavam mal. Enquanto estive lá, aconteceu isso com um guarda-redes por ter saído à noite na véspera de um jogo. Fazia isso frequentem­ente, mas depois, mesmo com o “gostinho” de álcool, conseguia jogar bem. Era o ídolo dos adeptos. Só que uma vez chegou mesmo meio torto, não conseguia jogar e o presidente ficou virado. Disse-lhe para dormir na cela. Era um regime de polícia num país muito louco. Quando saía de carro, que pertencia à polícia, era compli-

“Fiquei doente e disseram que seria um princípio de pneumonia. O médico do Leixões explicou que a TAC estava ao contrário”

Dyego Sousa Avançado do Braga

cado. É que alguns polícias não aceitavam bem que uma percentage­m do salário fosse para o clube. O que pensava de tudo isso na altura? —Temia que o presidente se chateasse por causa do meu certificad­o. Só queria ir embora dali, o mais rápido possível. Como é que conseguiu libertar-se desse pesadelo? —Fiquei doente e a minha esposa pediu ao presidente autorizaçã­o para eu ser tratado em Portugal. Disseram-me que estaria comum princípio de pneumonia, mas depois percebi que não tinha nada. O médico do Leixões explicou que a TAC feita em Angola até estava ao contrário. Chegaram a reter o meu passaporte. Quando aceitaram o meu regresso, exigiram que deixasse lá todo o dinheiro que tinha recebido. Trouxe, no máximo, uns mil euros.

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