O Jogo

Herrera é humano

- Paulo Baldaia

S ou desde sempre um fã de Héctor Herrera. Dos tempos em que ele era mal-amado no FC Porto e eu me deslumbrav­a a vê-lo jogar pela seleção mexicana, imaginando que um dia o meu clube teria um treinador que saberia ver a posição onde El Zorro joga melhor. A grande época que Herrera fez e que contribuiu para o FC Porto ser campeão não é, por isso, mérito exclusivo do mexicano. Sérgio Conceição conseguiu tirar tudo o que tinham para dar vários jogadores da equipa, inclusive de Herrera. O nosso capitão não mereceu o salário que ganha apenas pelo futebol que levou para o relvado, nem pelo golo que marcou aos vermelhos no salão de festas da Luz, o seu grande mérito foi o de ter liderado o balneário de uma forma que se tornou imprescind­ível para conquistar o título de campeão. Com ele, com os restantes titulares, com os suplentes e com o treinador, todos os portistas estiveram na roda no final de cada jogo. Depois de vários anos em que deu tudo ao FC Porto, com um contrato a chegar ao fim, é justo e é acima de tudo compreensí­vel que Herrera procure melhorar a sua situação contratual. Pedir ao mexicano que se mantenha no clube por valores bastantes mais baixos do que ele pode ganhar noutros campeonato­s é apelar a um clubismo que El Zorro não cultivou desde pequenino. Ele não é um adepto, como eu, que estaria disposto a pagar para vestir a camisola, ele é um profission­al que, como todos os outros, em todas as outras profissões, procura conseguir o melhor contrato. Mas, no futebol, como no jornalismo, na gestão, na advocacia, nas mil profissões do mundo, o melhor contrato nem sempre é o que oferece mais dinheiro. E eu acho que Herrera está a ver mal o filme. Vamos por partes:

1 Do ponto de vista da gestão do FC Porto, renovar com Herrera serviria para vender os direitos desportivo­s mais à frente ou fazer dele o jogador referência, quase permitindo que terminasse a carreira no FC Porto. Não esquecer que ele tem 28 anos e terá 29 no final do presente contrato. Em qualquer dos casos, pagar mais de seis milhões de euros brutos, ou três milhões líquidos como revelou ontem o seu empresário a O JOGO, não seria uma boa opção. Aceitar pagar a Herrera o mesmo, ou mais, do que ele pode ganhar noutros campeonato­s diminui as hipóteses de fazer uma venda futura. Pagar-lhe muito acima da média do que se paga no FC Porto obriga a melhorias significat­ivas de outros contratos no plantel, o que é impossível para o orçamento do clube.

2 O erro do mexicano é mesmo o de pensar, como ontem deu entender Gabriel Moraes a este jornal, que o melhor é igual ao máximo de dinheiro. O empresário salientou que “este é o contrato mais importante da vida” de Herrera. Neste ponto, podemos estar todos de acordo, mas o que é melhor para El Zorro – na perspetiva financeira – pode significar ele ir perder-se numa qualquer equipa de segundo plano, numa cidade sem metade da beleza do Porto, com gente e adeptos que não têm o calibre azul e branco. Perguntem ao Casillas. Herrera é humano e pode ser levado a pensar que mais dinheiro é sempre sinónimo de mais felicidade, mesmo quando já se ganha muito. Por mim, como adepto, Herrera terá total apoio até ao último dia em que jogar de azul e branco.

O seu grande mérito foi o de ter liderado o balneário de uma forma que se tornou imprescind­ível para conquistar o título de campeão

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