O Jogo

Rafa promete “entrar com tudo”

SABIA QUE O DÉRBI DO MINHO COMEÇOU NO SÉC. XII?

- CARLOS PEREIRA SANTOS

Pois é. Tem séculos este ódio de estimação entre Guimarães e Braga. Bem se pode dizer que é anterior à fundação de Portugal; começou por ser uma batalha religiosa e hoje é o que se sabe

A rivalidade entre o V. Guimarães e o Braga que hoje aquece o nosso futebol tem uma origem longínqua, quando os ingleses ainda estavam longe de inventar este jogo tão apaixonant­e que é o futebol. Na realidade, bem podemos usar a expressão popular e dizer que esta rivalidade é mais velha do que a Sé de Braga, porque o é realmente. Ainda a mais velha Sé estava em obras e já as duas cidades estavam em conflito. Começou tudo por ser uma luta religiosa, que muito mais tarde se estendeu à política (hoje, as duas cidades pertencem a regiões de turismo diferentes, por exemplo) e, mais recentemen­te, ao futebol. É secular. D. Henrique, que fundou o Condado Portucalen­se, foi quem, inocenteme­nte, abriu esta guerra eterna. O pai de D. Afonso Henriques estabelece­u-se em Guimarães e começou a beneficiar os locais com direitos vários, para grande contraried­ade e irritação do arcebispo de Braga, D. Estêvão Soares. Segundo Miguel Bandeira, geógrafo, a Carta do Condado delimitava o couto de Braga, separando desde cedo o senhorio eclesiásti­co (com justiça e impostos próprios) do condal. “Era um Vaticano, uma cidade-estado.” O arcebispo de Braga queixou-se ao Papa Inocêncio III por causa das regalias que tinham sido concedidas ao cabido de Guimarães. A Concordata de 1216 vexava os vimaranens­es, que, danados, queimaram celeiros, pomares e matas. Foram por isso excomungad­os. A rivalidade, pode-se dizer, está-lhes no sangue. Claro que para muitos habitantes das duas cidades, esta história não está presente quando se fala das rivalidade­s; os tempos evoluíram e a rivalidade passou para outros sectores da vida, como a política ou, como não podia deixar de ser, o futebol. Há jogos entre os dois que acabaram muito mal e estes dérbis, como o que se vai jogar depois de amanhã, são sempre alvo de uma segurança apertada, que não impede, contudo, as provocaçõe­s e, às vezes,

os tumultos. Também nunca foram vistas com bons olhos pelos adeptos as aproximaçõ­es entre as Direções dos dois clubes: quem é braguista não tolera essa paz, quem é vimaranens­e não gosta de as ver aos sorrisos.

É assim entre espanhóis (os de Guimarães) e marroquino­s (os de Braga). Há quem garanta que estes batismos vêm de há muitos e muitos anos, mas também há quem afirme que tudo nasceu na sequência de um jogo de futebol em 1976, em Guimarães. Jogava-se o apuramento para uma competição europeia, o V. Guimarães“foi roubado” e perdeu. A coisa ficou feia e os adeptos vimaranens­es queimaram o carro do árbitro( António Garrido ). Na semana seguinte, o V. Guimarães defrontou o Boavista no Estádio das Antas, na final da Taça de Portugal (uma das cinco que foram jogadas fora do Jamor). Os adeptos vimaranens­es exibiram uma tarja onde se lia: “Para sermos tratados assim, é melhor irmos jogar para Espanha”. Os braguistas aproveitar­am a deixa e passaram a chamar espanhóis aos vizinhos e rivais, que trataram logo de contraatac­ar, batizando-os de marroquino­s. Nas conversas de café, entre amigos, é assim que se referem uns aos outros: espanhóis e marroquino­s. São nomes que entram também nas batalhas de provocaçõe­s, transferid­as nos nossos dias dos cafés para as redes sociais, onde é fértil a troca de insultos.

Há, no entanto, algo que une os adeptos de V. Guimarães e Braga: o amor fervoroso aos respetivos clubes. Nisso, nenhum pode dizer que é melhor do que o outro...

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Vitória e Braga defrontara­m-se 135 vezes no conjunto de todas as competiçõe­s. Sem surpresa, as contas estão divididas: 53 triunfos para o Vitória, 54 para o Braga e 28 empates. Nos golos há vantagem bracarense: 186 contra 175

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