O Jogo

Partiu a perna e ainda levou tareia da mãe

HISTÓRIAS Laureta relembra que os dérbis do Minho de antigament­e eram bem mais agressivos e que os jogadores nem dormiam na véspera

- TOMAZ ANDRADE

Zahovic corrobora a versão de Laureta e explica que a ausência de castigos por acumulação de cartões amarelos abria a porta a entradas mais agressivas nos duelos entre vitorianos e bracarense­s

Se, hoje em dia, as preocupaçõ­es táticas podem tirar alguma emoção e imprevisib­ilidade ao dérbi do Minho, os duelos de antigament­e transborda­vam de agressivid­ade. Eram mais puros, no entender de Laureta, jogador formado no Vitória e que mais tarde, no final da década de 1980, também represento­u o Braga. Está por isso em condições de avaliar o peso de cada camisola. “Não tenho dúvida nenhuma de que jogar pelo Vitória acarreta mais pressão. É algo que nasce nas camadas jovens; na véspera, já nem se dormia”, diz a O JOGO.

Aliás, o antigo jogador tem uma história curiosa passada num dos primeiros dérbis que disputou. “Em 1977, na formação, o Vitória foi jogar a Braga e, num lance dividido, o Dito levantou a sola e partiu-me a perna direita. Fui para o hospital, puseram-me gesso e quando cheguei a casa, em Guimarães, ainda levei uma tareia da minha mãe, que me disse que o futebol era para gandulos e que com a lesão não podia ir à escola.”

Alguns anos depois, a agressivid­ade manteve-se, algo explicado por Zahovic com a ausência de castigos disciplina­res. “Naquela altura, um jogador não ficava de fora por acumulação de cartões amarelos, logo aproveitav­a-se para dar pancada. E levar, claro. Sofri muito com as entradas dos adversário­s, e nem valia a pena simular faltas, porque aí era pior”, conta o esloveno, divertido por recordar os dérbis entre Braga e Vitória. “Eram semanas especiais. Pimenta Machado, por exemplo, gostava de provocar os adeptos do Braga ao dizer que uma camioneta chegava para os trazer até Guimarães. Na verdade, naquela altura os adeptos do Braga gostavam mais do Benfica, um clima muito diferente do que se vivia no Vitória.”

Sublinhand­o que o futebol atual é muito diferente do do seu tempo, Laureta vê em André André um jogador que o transporta ao passado. “Hoje em dia há entrega, mas não há agressivid­ade como antiga- mente. No plantel do Vitória, o André André é o único jogador impulsivo. Se se contasse os quilómetro­s dos jogadores nos dérbis das décadas de 1970 e 1980, certamente seriam mais do que os atuais. Talvez por isso fosse impossível acontece rum resultado como o da época passada, quando o Vitória perdeu 0-5 em casa. Era impensável acontecer algo do género, porque a equipa unia-se e dava tudo”, avalia Laureta, dando conta também de outras táticas mais sombrias: “Às vezes punha-se um gato ou um cão morto no balneário do adversário para cheirar mal. Acreditava-se muito em bruxarias.” Com ou sem elas, as picardias é que apareciam sempre nos dérbis minhotos. “Ao intervalo ou no final dos jogos dava-se um pontapé ou uma chapada sem o árbitro ver.”

“Às vezes punha-se um gato ou um cão morto no balneário para cheirar mal”

Laureta Ex-jogador do Vitória e do Braga

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Laureta, um guardador de histórias, em ação com a camisola do V. Guimarães

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