Fora da caixa Joel Neto
Devemos perceber que adeptos do Sporting não queiram ver Boa Morte homenageado depois de este ter escrito nas redes sociais o slogan “SLB, SLB, SLB, glorioso SLB!”, dedicado à equipa do filho? Talvez, se quisermos ser condescendentes. Devemos perceber que já não possa haver um jogo entre o V. Guimarães e o Braga sem a PSP o considerar de alto risco e os adeptos provarem que o é? Talvez, com condescendência. O ser humano é o ser humano, as paixões são as paixões, mas as rivalidades podem ser elevadas.
Jo1gos Nos Olímpicos em que Hitler jogava o prestígio, Berlim 1936, o saltador alemão Luz Long explicou a Jesse Owens como evitar fazer um salto nulo – mesmo sabendo que, assim, o adversário o humilharia ainda mais, a ele e à sua equipa. Nos Jogos de Inverno de Innsbruck, em 1964, a equipa inglesa partiu o bobsled e Eugenio Monti ofereceu-lhe o que os italianos tinham de reserva – mesmo prevendo que, assim, ele e os companheiros teriam de se contentar com o segundo lugar. Os exemplos são muitos, e os seus protagonistas não eram meninos de coro. Nutriram longas rivalidades, que ficaram para a história não apenas da civilização, mas do próprio desporto. E o futebol também pode ser digno, culto, desportivista. Não o é porque não quer, e talvez faça sentido: a manha e a vigarice são parte da sua praxis há muito tempo e, provavelmente, já são parte da sua natureza também. Não se fazem política, negócios, amor e futebol com boas intenções, diria um cínico. Como escreveu Nick Hornby, adepto do Arsenal, aquele jogo semanal é a nossa oportunidade de nos comportarmos como um gordo desbocado, com má higiene corporal e orelhas protuberantes. Tudo bem, mas então não venham com retóricas a desculpar a truculência. Queremos comportar-nos como grunhos, é tão simples quanto isso. Mais vale assumi-lo. Eu também já quis.