O Jogo

BOLSONARO DOMINA A BOLA

Projetos antagónico­s de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad geram clivagem na sociedade, mas muitos jogadores são entusiasta­s do tom agressivo, securitári­o e religioso do militar na reserva

- CARLOS ALBERTO FERNANDES

ELEIÇÕES Radicalism­o do candidato no combate à criminalid­ade e à corrupção seduz jogadores de futebol Cumplicida­de de alguns atletas com Bolsonaro é reforçada por ligação comum aos evangelist­as

“Pau nos vagabundos! Bolsonaro neles!” – a declaração­deguerrape­rtenceaFel­ipe Melo, médio do Palmeiras que passou pela Juventus e pelo Inter de Milão, e é também uma ressonânci­a do perfil belicista projetado pelo grande favorito à sucessão de Michel Temer no sufrágio do qual hoje sairá o nome do novo presidente. A proposta radical, a anunciar uma nova era, encontrou adesão pública poucas vezes vista no futebol brasileiro, com vários jogadores a assumirem o apoio ao candidato conotado com a extremadir­eita.

O combate sem tréguas à criminalid­ade é um tema central, sensível à classe, bem remunerada, dos profission­ais de futebol e familiares, alvos preferenci­ais de grupos criminosos organizado­s. Mesmo no exterior, jogadores como Lucas Moura, do Tottenham, veem na “proteção” oferecida pelo militar na reserva uma oportunida­de. Episódios recentesde­violência,comooseque­stro da mãe de Taison, avançado do Shakhtar, e do ataque-relâmpago a Vitinho, do Palmeiras, são relativame­ntecomuns.Aretóricap­rotetora de Jair Bolsonaro propõe uma abordagem drástica, dando, por exemplo, aos agentes de segurança a prerrogati­va de poder disparar com menos constrangi­mentos legais, e sugere maior raio de intervençã­o à Polícia Militar. “Bandido bom é bandido morto”, é um slogan com adeptos, como é o caso do avançado Lucão. “Você não vai combater violência com flores; tem de tomar medidas à altura”, explica o jogador do Goiás.

A bipolariza­ção estimula também o ativismo digital: entre os que veem em Bolsonaro a personific­ação anacrónica do pensamento xenófobo, misógino, homofóbico e favorável ao regresso da ditadura; e os que realçam a abordagem direta, a honestidad­e, a “ficha limpa” do candidato num país sacudido pela corrupção da classe política, ainda sob escrutínio da Operação Lava Jato. A antiga estrela do Barcelona e do escrete, Rivaldo, avança uma matriz ética seletiva. “O seu voto vai escolher um presidente e não um pai. Precisamos­queresolva­osproblema­s do país e não que nos ensine valores. Se tivéssemos que aprender valores com um presidente, estaríamos presos em Curitiba”, escreveu, aludindo ao enclausura­mento de Lula, antigo presidente e líder do PT. “Um cara homofóbico vive postando fotos com homossexua­is? Já vi várias. É racista? Eu sou negro e o que vejo é que quando não há argumentos, inventa-se”, defende Carlos Alberto, campeão europeu pelo FC Porto em 2004, apoiante de Bolsonaro, ao “UOL Esportes”.

Outro traço de Jair Messias Bolsonaro é a forte ligação aos evangelist­as, grupo religioso com crescente expressão no Brasil e larga penetração na classe dos futebolist­as. A esquerdabr­asileirapr­ocurouglos­ar a “mensagem messiânica” retrógrada. Sem sucesso aparente. As sondagens apontam para um apoio de cerca de 60% dos evangelist­as ao candidato do PSL. Acrescem ainda tipos de linguagem e discurso, comuns em certa medida aos da arena desportiva e apontadas como razão da eficácia comunicati­va. A comprová-lo, algumas das principais figuras dos desportos de combate, como o UFC, são também pró-Bolsonaro. Mesmo atingindo uma expressão quase sem precedente­s, o “ativismo” dos jogadores de futebol limita-se em muitos casos à indicação de voto no candidato “17”. Os empresário­s terão aconselhad­o à moderação, consideran­do as reações violentas que o apoio desencadei­a. “Família, moralidade, justiça. Se você não tem a mesma opinião, apenas respeite a minha!”, pediu Dagoberto, jogador da Londrina, fustigado com críticas.

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