BOLSONARO DOMINA A BOLA
Projetos antagónicos de Jair Bolsonaro e Fernando Haddad geram clivagem na sociedade, mas muitos jogadores são entusiastas do tom agressivo, securitário e religioso do militar na reserva
ELEIÇÕES Radicalismo do candidato no combate à criminalidade e à corrupção seduz jogadores de futebol Cumplicidade de alguns atletas com Bolsonaro é reforçada por ligação comum aos evangelistas
“Pau nos vagabundos! Bolsonaro neles!” – a declaraçãodeguerrapertenceaFelipe Melo, médio do Palmeiras que passou pela Juventus e pelo Inter de Milão, e é também uma ressonância do perfil belicista projetado pelo grande favorito à sucessão de Michel Temer no sufrágio do qual hoje sairá o nome do novo presidente. A proposta radical, a anunciar uma nova era, encontrou adesão pública poucas vezes vista no futebol brasileiro, com vários jogadores a assumirem o apoio ao candidato conotado com a extremadireita.
O combate sem tréguas à criminalidade é um tema central, sensível à classe, bem remunerada, dos profissionais de futebol e familiares, alvos preferenciais de grupos criminosos organizados. Mesmo no exterior, jogadores como Lucas Moura, do Tottenham, veem na “proteção” oferecida pelo militar na reserva uma oportunidade. Episódios recentesdeviolência,comoosequestro da mãe de Taison, avançado do Shakhtar, e do ataque-relâmpago a Vitinho, do Palmeiras, são relativamentecomuns.Aretóricaprotetora de Jair Bolsonaro propõe uma abordagem drástica, dando, por exemplo, aos agentes de segurança a prerrogativa de poder disparar com menos constrangimentos legais, e sugere maior raio de intervenção à Polícia Militar. “Bandido bom é bandido morto”, é um slogan com adeptos, como é o caso do avançado Lucão. “Você não vai combater violência com flores; tem de tomar medidas à altura”, explica o jogador do Goiás.
A bipolarização estimula também o ativismo digital: entre os que veem em Bolsonaro a personificação anacrónica do pensamento xenófobo, misógino, homofóbico e favorável ao regresso da ditadura; e os que realçam a abordagem direta, a honestidade, a “ficha limpa” do candidato num país sacudido pela corrupção da classe política, ainda sob escrutínio da Operação Lava Jato. A antiga estrela do Barcelona e do escrete, Rivaldo, avança uma matriz ética seletiva. “O seu voto vai escolher um presidente e não um pai. Precisamosqueresolvaosproblemas do país e não que nos ensine valores. Se tivéssemos que aprender valores com um presidente, estaríamos presos em Curitiba”, escreveu, aludindo ao enclausuramento de Lula, antigo presidente e líder do PT. “Um cara homofóbico vive postando fotos com homossexuais? Já vi várias. É racista? Eu sou negro e o que vejo é que quando não há argumentos, inventa-se”, defende Carlos Alberto, campeão europeu pelo FC Porto em 2004, apoiante de Bolsonaro, ao “UOL Esportes”.
Outro traço de Jair Messias Bolsonaro é a forte ligação aos evangelistas, grupo religioso com crescente expressão no Brasil e larga penetração na classe dos futebolistas. A esquerdabrasileiraprocurouglosar a “mensagem messiânica” retrógrada. Sem sucesso aparente. As sondagens apontam para um apoio de cerca de 60% dos evangelistas ao candidato do PSL. Acrescem ainda tipos de linguagem e discurso, comuns em certa medida aos da arena desportiva e apontadas como razão da eficácia comunicativa. A comprová-lo, algumas das principais figuras dos desportos de combate, como o UFC, são também pró-Bolsonaro. Mesmo atingindo uma expressão quase sem precedentes, o “ativismo” dos jogadores de futebol limita-se em muitos casos à indicação de voto no candidato “17”. Os empresários terão aconselhado à moderação, considerando as reações violentas que o apoio desencadeia. “Família, moralidade, justiça. Se você não tem a mesma opinião, apenas respeite a minha!”, pediu Dagoberto, jogador da Londrina, fustigado com críticas.