O Jogo

TIRAR O PÉ DA LAMA De Peseiro a Lopetegui

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ontra mim falo: há quatro anos, e face aos resultados de Lopetegui nas seleções jovens de Espanha, achei que o FC Porto podia bem ter acertado na mouche. Afinal, ficaram por demonstrar as razões da aposta. E depois, apesar das coisas bem feitas, ficaram por demonstrar as razões da aposta da seleção principal de Espanha. E agora, se chegou a haver coisas bem feitas, a verdade é que ficaram por demonstrar as razões da aposta do Real Madrid. Dir-se-ia que Lopetegui apresenta uma combinação muito particular no binómio expectativ­as/resultados, se na verdade se chegassem a perceber os motivos por que, primeirame­nte, gerou expectativ­as. Já José Peseiro, para falar de um caso nosso, é o oposto. Há 14 anos, perdeu tudo numa semana. Entretanto, acumulou trabalhos de diferentes graus de prestígio e qualidade, mas no FC Porto nunca passou a mediania. Há muito tempo que não gera expectativ­as, seja de que tipo for, e também não as gerou quando o Sporting o foi buscar para aguentar o barco. E o que faz, agora, Frederico Varandas? Oferece-lhe capital de queixa. É um gesto desconcert­ante. Ao colocar o treinador em causa como o fez na entrevista ao “Expresso”, o presidente do Sporting não se limitou a tirarlhe o tapete a ele: tirou-o a si mesmo. A partir daqui, todos os fracassos de Peseiro serão também fracassos do homem que diminuiu. E pior: a primeira resposta dos jogadores parece ter sido em defesa de Peseiro. A profissão de treinador é como as outras. Há os que há muito não fazem nada de jeito, mas continuam a viver de um prestígio que se dilui no tempo; e também há os que, aconteça o que acontecer, nunca tiram o pé da lama – aqui por responsabi­lidade própria, ali por azar e acolá porque são boicotados. O extraordin­ário, neste caso, é que quem boicota está disposto a imolar-se também.

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