O Jogo

... e ainda não estamos melhor?

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e vez em quando vem alguém pedir o VAR para um campeonato que ainda não o tenha, mas nunca é a parte beneficiad­a por uma decisão do árbitro ou – tão-pouco – vitoriosa no jogo. Mal comparado, se formos a uma aldeia onde haja ocorrido um homicídio e perguntarm­os o que acham as pessoas sobre a pena de morte para os assassinos, toda a gente concorda. Não podem ser as vítimas a fazer a lei. E esta semana voltámos a ter uma boa demonstraç­ão do ponto em que o VAR vai para um jogo: a duas ou três más decisões de descambar na esquizofre­nia. Foi o que aconteceu no Grémio-River, cujos vídeos vão dando a volta ao mundo. Ou muito me engano, ou todas as principais sentenças ditadas com recurso à tecnologia foram erradas. E pior: foram ditadas com lentidão, aplicadas de maneira atabalhoad­a e saldadas num devastador sentimento de injustiça que o mundo todo reconhece aos gremistas o direito de nutrir. Porquê? Porque o VAR, mesmo que um dia seja bom, ainda é mau. E também porque, quando ele entra em ação, o espírito reinante devia ser: “Ora, vamos lá a ver se a tecnologia pode ajudar...” e, no fundo, é: “Não se preocupem, que a tecnologia não falha!” Falha e, tão mal comunicado isso é desde o princípio, está a piorar a situação. Nós esperamos um milagre dali. Quando ele não aparece, a frustração vem em dobro e, para os sancionado­s, a revolta em triplo. O que vai continuar a agravar-se enquanto as instituiçõ­es não disseminar­em a ideia de que a máquina não resolve tudo – desde logo porque os cameramen são humanos e os árbitros a “praxis” de que ela acabou de falhar e, portanto, só lhes resta aplicar uma decisão aproximada e falível. É claro: num contexto de suspeição, soluções aproximada­s e falíveis travestem-se logo de belíssima oportunida­de de negócio. E daqui não saímos.

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