O caminho traçado
J osé Peseiro protagonizou a primeira chicotada psicológica da época na I Liga. Sinceramente, sem surpresa. Acho que foi ele próprio quem conseguiu adiar o inevitável, com uma série de bons resultados no início da época. Não podemos olhar para José Peseiro como um mártir, como um coitadinho a quem aconteceu o pior do mundo. Custa-me sempre que um colega de profissão passe por uma situação destas; custa-me, portanto, o que aconteceu a Peseiro, que entrou no Sporting num momento em que o temporal ainda não tinha acalmado totalmente em Alvalade, em que os responsáveis procuravam arrumar a casa e iniciar uma fase de transição, em que o treinador acabou por embarcar, mas sabendo que estava a correr um risco grande, porque ia haver eleições e nada lhe garantia que fosse a preferência do presidente eleito. A pré-época foi muito má, assustou, inquietou os adeptos. Foi um arranque muito difícil, mas que o treinador foi contornando, com a sua experiência, baseado também no conhecimento profundo da situação, e conquistando a simpatia dos adeptos, com uma série de bons resultados nas competições oficiais, nomeadamente o empate no Estádio da Luz, num momento em que muitos estimavam uma derrota pesada para o Sporting. Mas, sinceramente, a imagem que passou foi sempre a de algum desconforto, acentuado, e de forma evidente na parte final, com a certeza de que José Peseiro não era “o treinador do novo presidente”. Na última semana, em duas entrevistas de Frederico Varandas, ficámos a perceber que as coisas não iam correr bem para o lado de Peseiro: a derrota em Portimão foi o primeiro toque a reunir. José Peseiro também deve ter percebido isso, mas não se protegeu convenientemente neste jogo com o Estoril, ao utilizar uma equipa menos rodada, num jogo em que tinha de ganhar. Seria muito mais difícil um desfecho como o que houve se o Sporting tivesse vencido o Estoril. Esse resultado “legitimou” a decisão de Frederico Varandas em fazer aquilo que há muito tempo tinha em mente: trocar de treinador. José Peseiro saiu e agora vem alguém de novo que, no mínimo, terá de estar familiarizado com o futebol português, mas não tem de ser necessariamente um treinador português. Quem vier vai encontrar um Sporting habilitado ainda em todas as frentes, até mesmo na Taça da Liga, apesar da derrota com os estorilistas. E, por isso, não há muito tempo a perder, não há tempo para a chamada adaptação ao futebol português, porque o tempo não se compadece com essas necessidades e perder agora o comboio, nomeadamente o do título, pode ser fatal. Eu acho que este presidente tem um projeto a médio/longo prazo para o Sporting, para que o clube deixe de ser um habitué a trocar de treinador e lhe dê a estabilidade que necessita para lutar, nomeadamente pelo título que há tantos anos lhe foge. Deixem-me terminar mandado um abraço de solidariedade para a família de Esquerdinha, jogador e bom colega com quem partilhei o balneário, e que vai deixar saudades...
“Foram os bons resultados no início da época que adiaram o inevitável: José Peseiro não era o treinador de Frederico Varandas