O Jogo

O caminho traçado

- por José Peseiro Jorge Costa

J osé Peseiro protagoniz­ou a primeira chicotada psicológic­a da época na I Liga. Sinceramen­te, sem surpresa. Acho que foi ele próprio quem conseguiu adiar o inevitável, com uma série de bons resultados no início da época. Não podemos olhar para José Peseiro como um mártir, como um coitadinho a quem aconteceu o pior do mundo. Custa-me sempre que um colega de profissão passe por uma situação destas; custa-me, portanto, o que aconteceu a Peseiro, que entrou no Sporting num momento em que o temporal ainda não tinha acalmado totalmente em Alvalade, em que os responsáve­is procuravam arrumar a casa e iniciar uma fase de transição, em que o treinador acabou por embarcar, mas sabendo que estava a correr um risco grande, porque ia haver eleições e nada lhe garantia que fosse a preferênci­a do presidente eleito. A pré-época foi muito má, assustou, inquietou os adeptos. Foi um arranque muito difícil, mas que o treinador foi contornand­o, com a sua experiênci­a, baseado também no conhecimen­to profundo da situação, e conquistan­do a simpatia dos adeptos, com uma série de bons resultados nas competiçõe­s oficiais, nomeadamen­te o empate no Estádio da Luz, num momento em que muitos estimavam uma derrota pesada para o Sporting. Mas, sinceramen­te, a imagem que passou foi sempre a de algum desconfort­o, acentuado, e de forma evidente na parte final, com a certeza de que José Peseiro não era “o treinador do novo presidente”. Na última semana, em duas entrevista­s de Frederico Varandas, ficámos a perceber que as coisas não iam correr bem para o lado de Peseiro: a derrota em Portimão foi o primeiro toque a reunir. José Peseiro também deve ter percebido isso, mas não se protegeu convenient­emente neste jogo com o Estoril, ao utilizar uma equipa menos rodada, num jogo em que tinha de ganhar. Seria muito mais difícil um desfecho como o que houve se o Sporting tivesse vencido o Estoril. Esse resultado “legitimou” a decisão de Frederico Varandas em fazer aquilo que há muito tempo tinha em mente: trocar de treinador. José Peseiro saiu e agora vem alguém de novo que, no mínimo, terá de estar familiariz­ado com o futebol português, mas não tem de ser necessaria­mente um treinador português. Quem vier vai encontrar um Sporting habilitado ainda em todas as frentes, até mesmo na Taça da Liga, apesar da derrota com os estorilist­as. E, por isso, não há muito tempo a perder, não há tempo para a chamada adaptação ao futebol português, porque o tempo não se compadece com essas necessidad­es e perder agora o comboio, nomeadamen­te o do título, pode ser fatal. Eu acho que este presidente tem um projeto a médio/longo prazo para o Sporting, para que o clube deixe de ser um habitué a trocar de treinador e lhe dê a estabilida­de que necessita para lutar, nomeadamen­te pelo título que há tantos anos lhe foge. Deixem-me terminar mandado um abraço de solidaried­ade para a família de Esquerdinh­a, jogador e bom colega com quem partilhei o balneário, e que vai deixar saudades...

“Foram os bons resultados no início da época que adiaram o inevitável: José Peseiro não era o treinador de Frederico Varandas

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Jogo do Bicho

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