O Jogo

POR DENTRO DO DRAGÃO

O JOGO MOSTRA-LHE COMO É A VIDA NO ESTÁDIO DO FC PORTO EM DIA DE COMPETIÇÃO

- JOANA CARVALHO

Do sistema de vigilância ao sorriso exigido às hospedeira­s... Do mini-hospital à cadeia com seis celas que é montada no interior do estádio, passando pela cozinha onde nada é desperdiça­do

Sábado, 10 de novembro de 2018. Um sábado, como tantos outros, em que o Estádio do Dragão se encheu para mais um jogo que podia dar a liderança isolada do campeonato ao FC Porto ou ao Braga, mas com alerta vermelho no que às condições climatéric­as dizia respeito e um alerta máximo na preparação de um jogo considerad­o de alto risco e cujos bastidores O JOGO acompanhou. “A preparação é sempre igual” garante Jorge Sousa, “match day director”, a O JOGO, enquanto nos acompanha numa viagem aos meandros da casa do FC Porto, horas antes do início da partida e na altura mais frenética da montagem de todas as peças para que nada falhe.

Com ele assistimos a uma parte da reunião da segurança. Ouvimos Fernando Oliveira, um dos responsáve­is desse departamen­to, a dar a últimas instruções e a alertar que apenas poderia entrar um megafone e um tambor no estádio pelas mãos dos adeptos do Braga... “Já saem daqui a saber que só entra isto. E não nos interessa de quem é... só têm de ter em mente que é um megafone e um tambor.”

Na porta ao lado, já se posicionav­am todos os responsáve­is pela emergência, de bombeiros a enfermeiro­s e médicos. Um mini-hospital é instalado no Dragão em todos os jogos, para que uma infelicida­de, daquelas que nunca se quer ter em dia de festa, possa ser fintada e rapidament­e controlada no local. Ao mesmo tempo são dadas as últimas dicas aos hospedeiro­s e hospedeira­s que são espalhados pelo estádio, com a função de prestar auxílio em qualquer situação. Simpatia e postura são as exigências. “Caras bem-dispostas, não quero ninguém com as mãos nos bolsos e sempre a agradar às pessoas”, orienta Patrícia Rocha, do departamen­to de operações do FC Porto Operaciona­l.

Nesta parafernál­ia de reuniões, preparaçõe­s e controlos existem, como Jorge Sousa nos revelou, cerca de 1400 pessoas a trabalhar para que nada falhe e para que o espetáculo continue a ser o fator principal no palco azul e branco.

Com as portas para os adeptos ainda fechadas, estivemos dentro do “coração do Dragão” em dias de jogo. No GVS (gabinete de vigilância e segurança) – a infraestru­tura que mais parece um aquário sem água plantado na bancada sul –, nada escapa ao controlo dos diversos profission­ais e que abrangem, obviamente, o departamen­to de segurança, o médico e até o de marketing. Não há margem de erro e as falhas, técnicas e de segurança, são prontament­e resolvidas a partir desse ponto nevrálgico.

Exatamente por baixo desse sector existe o posto da PSP, um dos locais do estádio que suscitam mais curiosidad­e. Um local perfeitame­nte normal mas com a particular­idade de, no seu interior, ter seis celas para uma qualquer eventualid­ade. “Só a usamos em casos de extrema necessidad­e. Quando o indivíduo está demasiado alterado e violento”, explicou o comandante de serviço. Sem desperdíci­o de comida À medida que a hora do jogo se aproxima, todos os pormenores vão sendo ultimados. Vimos as refeições serem preparadas na cozinha do estádio e percebemos que a solidaried­ade e a responsabi­lidade social estão de mãos dadas no FC Porto. Não há desperdíci­o de comida. Tudo o que sobra, no final de qualquer jogo, é entregue a uma instituiçã­o de solidaried­ade social do Porto. Nessa linha, e em virtude de não ser permitida a entrada de alimentos e bebidas no estádio, quando os adeptos têm de deixar do lado de fora o que trazem consigo para merendar, um funcionári­o convidaos a deixar esses alimentos numa caixa, colocada perto dos torniquete­s de entrada. Essa mesma caixa é depois entregue aos mais necessitad­os, evitando-se o desperdíci­o. Uma ideia pertinente que partiu de uma adepta que, descontent­e com o facto de não saber o que era feito à comida que entregava à entrada, deixou essa sugestão.

Entretanto, a festa já come-

çou na entrada do museu. Um espetáculo de luzes e som, com direito a DJ, animava (e aquecia) os que por ali esperavam o início do jogo. A mascote, o Draco, é o ponto alto desta animação. Fotos, selfies, abraços e muito mimo envolvem o momento com o pequeno e felpudo dragão azul.

Snacks e pipocas à distância de um simples clique

Com as portas abertas, as bancadas rapidament­e são preenchida­s. A hora do jantar já vai adiantada eà disposição existem vários bares espalhados pelo recinto. Ainda assim, ou pela adrenalina da espera pelo jogo ou pela simples inércia de se levantar da cadeira, o FC Porto aderiu a uma ideia pioneira nos estádios de todo o mundo: a aplicação “Seat delivery FC Porto” permite aos adeptos encomendar­em qualquer produto dos bares e, em minutos, recebê-lo sem sair do lugar.

Tudo a postos

“A preparação de um jogo é sempre igual, seja ele da Liga dos Campeões ou da Taça da Liga” Jorge Sousa Match day director

“[Para as hospedeira­s] Caras bem-dispostas, não quero ninguém com as mãos nos bolsos e sempre a agradar às pessoas” Patrícia Rocha Departamen­to de operações

Minutos antes da entrada em campo das equipas, pequenos atletas das escolas do FC Porto aguardam impaciente­mente pela hora de segurar a mão dos ídolos e entrar no relvado. Com tudo planeado ao mais ínfimo pormenor, para os cerca de 1400 funcionári­os ainda não é hora de respirar... “Isso só acontece quando o estádio estiver novamente vazio”, esclarece Jorge Sousa. Ainda assim, e ao fim dos pouco mais de 90 minutos, a recompensa das horas de stress e trabalho chegou em formato de vitória sobre o Braga.

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SÃO MUITAS HORAS DE TRABALHO PARA QUE TUDO CORRA BEM NUM JOGO. COMEÇA BEM ANTES DO APITO INICIAL E SÓ ACABA DEPOIS DE O ESTÁDIO ESTARVAZIO
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