O Jogo

AS FOTOS DO FOGO NUMA TARDE DOURADA

TONDELA Depois do treino matinal, o plantel visitou a Quinta da Cruz, em Viseu, onde estão expostas as memórias de um ano contado a partir dos incêndios de 15 de outubro

- MÓNICA SANTOS

Chama-se “Dever de memória – da infâmia à esperança” e o nome não podia ser mais apropriado. Viseu não deixa cair no esquecimen­to a tragédia que também se inscreveu nas vidas dos jogadores

Pouco mais de um ano depois de ter atravessad­o a A25 em chamas e de ter vivido com a população a aflição do fogo na cidade, o plantel do Tondela revisitou ontem esse drama e o esforço de reconstruç­ão que tem presenciad­o desde então, através da visita à exposição “Dever de memória – da infâmia à esperança”. Antes mesmo de se entrar no túnel que nos mergulha nas fotos do fogo, assinadas pelos repórteres Nuno André Ferreira e Adriano Miranda, o contraste das emoções que nos esperam é sublinhado pela paisagem da Quinta da Cruz, um espaço municipal de Viseu que é como um pequeno tesouro por estes dias dourados pelas cores do outono. Ali se acolhe património natural e, até ao fim do ano, a memória de 365 dias de resistênci­a, primeiro ao fogo e depois à devastação.

Na entrada da casa da quinta foi colocado um túnel. Entrase e o colorido da vegetação apaga-se, sobram apenas a escuridão e as labaredas, que ganham vida no registo fotográfic­o da noite de 15 de outubro – Sergio Peña, que só esta época se juntou ao clube, ouviu espantado o relato dos companheir­os que atravessar­am a noite em claro com a população de Tondela. O edifício recebe-nos com a memória da devastação do dia seguinte e nos outros, do que ficou para trás, do que permanece em ruína e, mais adiante no caminho, do esforço de reconstruç­ão que devolve a cor à paisagem e recorda a necessidad­e de uma política ambiental que diminua o risco de tragédias como as do ano passado, que custaram 64 vidas e arrasaram uma vasta área florestal. A visita desagua na que era, originalme­nte, a cozinha da quinta – o local onde, recorda a guia, a lareira aconchegav­a noites quentinhas, de fogo amigo a embalar histórias. Ali moram por estes dias as memórias finais de um ano doloroso, com as marcas e a esperança que hão de ser contadas por muitos anos e que o município de Viseu fez questão de lembrar, fiel ao tal dever de memória. Ricardo Costa, capitão do Tondela, que viveu a noite das chamas, continua impression­ado com a dimensão das perdas e da angústia que sobraram daquele 15 de outubro. “A vida continua”, reage, mas a memória cola-se aos olhos e, mesmo vivido e registado em foto, ainda parece inacreditá­vel.

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No ano passado, o plantel do Tondela viajou entre as chamas na A25, um dia que jamais esquecerão

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