O Jogo

Acusação de fuga ao fisco atinge governo espanhol

Secretária de Estado do Desporto declarou durante vários anos parte dos rendimento­s através de uma empresa, estando sujeita a menor tributação

- JOÃO ARAÚJO

María José Rienda, exesquiado­ra de topo e atual secretária de Estado do Desporto e presidente do Conselho Superior do Desporto, criou empresafan­tasma para pagar menos impostos

Depois de Ronaldo, Mourinho, Ricardo Carvalho, Coentrão, Messi, Mascherano ou Xabi Alonso, agora foi a vez de um membro do governo espanhol ser acusado de evasão fiscal através do recurso a uma empresa-fantasma. María José Rienda, secretária de Estado de Educação, Cultura e Desporto e presidente do Conselho Superior do Desporto de Espanha, fez ontem manchete no diário “El Mundo” – e pouco depois era notícia nos mais variados média –, porque na segunda metade da sua carreira de esquiadora declarou rendimento­s de cerca de 1,4 milhões de euros relativos a direitos de imagem e comprou duas casas por intermédio de uma empresa sem qualquer atividade. Isso permitiu-lhe tributar esse património através do correspond­ente ao IRC, o “Impuesto de Sociedades”, em vez de o fazer via IRS (IRPF no país vizinho), ou seja, pagou muito menos impostos do que era suposto ter feito.

Acontece que esta é uma prática proibida pela autoridade fiscal espanhola, que exige que todos os rendimento­s provenient­es da atividade profission­al sejam declarados via IRPF (daí as investigaç­ões aos homens do futebol). E que como o “El Mundo” fez questão de recordar, também é reprovada pelo atual chefe do governo. O jornal recuperou uma declaração de 2015, quando o socialista Pedro Sánchez liderava a oposição, a propósito de um dos principais responsáve­is do partido Podemos, Juan Carlos Monedero, que entretanto se demitiu dos cargos que ocupava e quetambémt­inhacriado­uma sociedade que lhe permitiu tributar metade dos impostos. “É imoral que o número três da tua organizaçã­o tenha criado uma empresa para tributar metade do que deveria. Essa pessoa no dia seguinte estaria fora do meu executivo”, disse Sánchez na altura.

Com 43 anos, a atual governante é a esquiadora espanhola com maior triunfos em Taças do Mundo, seis, além de ter cinco participaç­ões olímpicas. Especialis­ta em slalom gigante, foi atleta de 1998 a 2011, último ano de atividade da empresa por ela criada em 2004. Fez história na política ao tornar-se a primeira mulher a comandar os destinos do desporto espanhol e agora aguarda-se pelos desenvolvi­mentos de um caso que a própria garante não lhe roubar a serenidade. Ao “El Mundo” disse ter as contas em dia com o fisco e que está “muito tranquila”.

O jornal não conseguiu confirmar se a governante teve de pagar alguma multa – como sucedeu nos casos que envol- veram futebolist­as –, mas detalha que além dos 1,448 milhões de euros acumulados pela empresa entre 2004 e 2011, esta também serviu para a aquisição de imóveis: uma vivenda por 200 mil euros, em 2005, com 235 metros quadrados de área, num terreno de 500 metros quadrados, com piscina privada e dentro de uma urbanizaçã­o num campo de golfe, na sua Granada natal; e um andar, comprado em 2010, junto ao mar.

A estas duas casas, Rienda e o marido acrescenta­m outras três a título pessoal e um terreno de cultivo com cerca de um hectare, não tendo a secretaria de Estado esclarecid­o o porquê de as duas referidas terem sido adquiridas através da sociedade-fantasma.

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María José Rienda é a primeira mulher à frente dos destinos do desporto espanhol

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