O Jogo

O Parlamento lava mais branco

- Paulo Baldaia

Na semana em que se iniciou a instrução do caso e-Toupeira, em que a Benfica SAD é acusada de 30 crimes, num processo em que, alegadamen­te, a justiça foi corrompida, o que se esperava era que os senhores deputados tivessem proposto uma Comissão de Inquérito Parlamenta­r para investigar como pode ser tão fácil ter acesso a segredos do sistema de justiça para antecipar diligência­s de investigaç­ões, como, por exemplo, buscas a um estádio, impedindo dessa forma que uma determinad­a investigaç­ão pudesse produzir os efeitos esperados pelo Ministério Público. Mas sobre este assunto, na Assembleia da República, todos continuam a tocar gaita de beiços. Mas, OK!, vamos imaginar que a melhor solução é mesmo os deputados não misturarem política com futebol e com justiça. Como explicar então que uma associação chamada Benfiquist­as no Parlamento se lembre de dar palco ao presidente do clube, com o argumento de que quiseram homenagear os antigos campeões europeus, exatamente na semana em que o Benfica procura livrarse de uma acusação muito grave na justiça? É o Parla- mento a lavar mais branco e a permitir que Filipe Vieira apareça como um grande democrata ao lado de um campeão europeu chamado Simões, que acusou o Benfica de o censurar e que foi acusado pelo líder de ser mentiroso. Já nada espanta neste nacional-benfiquism­o de representa­ntes do povo que não têm vergonha e não merecem grande respeito. Que lhes toque uns bilhetinho­s para ver uns jogos e umas camisolas para oferecer no Natal. Assim como assim, era prática comum no processo e-Toupeira e funcionari­a como justa homenagem aos que agora arranjaram palco na casa da democracia para o querido líder, exatamente nesta semana. Nesta associação, onde está o dirigente da SAD benfiquist­a Rui Costa, só não estão deputados do Bloco, mas estão dos outros partidos e funcionári­os vários. A existência da dita associação não tem nada de estranho e as homenagens que queiram fazer também não, mas é uma infeliz coincidênc­ia que este encontro, anunciado na semana anterior e feito agora, aconteça quando o Benfica tem de responder na justiça e não exista nenhuma data redonda a exigir a homenagem a uma equipa que ganhou dois troféus em 1961 e 1962. Eu, que já não vou para novo, ainda não era nascido, mas não preciso que me estejam a lembrar todos os dias para saber que aconteceu. P.S. Em matéria de justiça, aliás, o Benfica já começou a recorrer ao Supremo. Ao que me dizem, a assessora do Supremo Tribunal de Justiça (STJ) foi contratada pela Benfica SAD. Se vier a ser condenada, a SAD vai por certo querer recorrer e, quando chegar a vez do Supremo, bem pode colocar a nova funcionári­a do Benfica a ir entregar o recurso em mão. Já conhece bem os corredores da instituiçã­o. Conheço a pessoa em causa, foi jornalista na TSF quando eu estava diretor, tendo saído para assessorar um membro do Governo de Passos Coelho. É gente séria e boa gente. A ironia dos corredores da instituiçã­o, utilizada no parágrafo anterior, não lhe é dirigida. A questão não é de todo a assessora, é mesmo o Benfica e esta mania de que tudo controla, de que chega a todo o lado. Estão mesmo convencido­s de que fizeram uma grande jogada ao ir buscar a assessora do STJ.

Já nada espanta neste nacionalbe­nfiquismo de representa­ntes do povo que não têm vergonha e não merecem grande respeito”

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